Arnaldo Niskier: A hora do pé-de-meia

Por Arnaldo Niskier*

Custou, mas o governo federal fez alguma coisa de concreto em favor do ensino médio brasileiro. Ninguém poderia ficar feliz com o fato de 480 mil jovens abandonarem esse grau de ensino, todo ano, num lamentável desperdício.

Nasceu o Projeto Pé-de-Meia, que vai financiar com 2.000 reais anuais os jovens de baixa renda que tiverem a frequência de pelo menos 80% às aulas respectivas. Não é tudo, mas já representa um belo incentivo. Para ter o benefício, é também essencial que o candidato participe das provas do Enem. O incentivo será destinado especialmente a alunos indígenas e quilombolas, antes desamparados. "É uma forma de evitar que esses jovens se voltem para o crime. Agora vão se dedicar à alfabetização e ao fomento de tempo integral. "Vamos implementar políticas que estimulem as relações com estados e municípios." Segundo o Ministro Camilo Santana, "nossas ações devem chegar na ponta do processo, o que antes não acontecia."

Como se vê, há um claro apoio às necessidades dos estudantes. Esse auxílio serve para garantir com que os aprovados nas universidades federais continuem seus estudos até se formar. Esse processo de melhoria do ensino médio é mais complexo e precisa chegar também a duas partes essenciais: a melhoria dos currículos e o aperfeiçoamento da formação dos professores.

Vamos colocar mais luz nesse processo. Hoje se fala muito na inteligência artificial, para dar um exemplo, e isso precisa ser acompanhado muito de perto. É uma parte essencial no chamado ensino técnico-profissional, que pode oferecer oportunidades de trabalho no ensino intermediário, e isso não tem acontecido, como há exemplos em outros países desenvolvidos, com a Alemanha, a Finlândia e Israel, além da Coreia do Sul.

É preciso insistir num ponto fundamental: a reforma dos cursos de Pedagogia. Isso cabe ao Conselho Nacional da Educação, que ainda não se debruçou sobre a matéria, como já deveria ter feito. Conheço o assunto depois de ter participado desse órgão, durante oito anos. Temos que proteger essas mudanças necessárias. Pode-se afirmar que nem é tão complicado assim. A iniciativa deve caber ao Ministério da Educação.

*Escritor e pedagogo. Presidente Emérito do CIEE/RJ. Membro da Academia Brasileira de Letras