Dois pesos e duas medidas. O Brasil é uma verdadeira fábrica de produções quando o assunto é impunidade, ou o que vale para um, não pode servir para o outro, convergindo ao mero sabor dos interesses. É a velha máxima: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Um exemplo claro dessas incongruências, envolve o episódio recente do empresário bem-sucedido, que no comando de sua Porsche, matou um motorista de aplicativo, em São Paulo. A juíza que concedeu liberdade para o empresário, é a mesma que manteve preso um homem que tentou furtar produtos em um supermercado da capital paulista. O caso aconteceu em agosto de 2022.
Na oportunidade, seguranças do supermercado flagraram um homem de 21 anos tentando levar um litro de conhaque, que custava R$ 16,99, duas garrafas de vodka (R$ 16,99, cada) e dois desodorantes (R$ 18,99, cada) escondidos sob a camisa. É lógico que a argumentação não se trata de chancelar uma prática criminosa, afinal, crime é crime, e quem o pratica, precisa e deve responder na forma da lei. No entanto, é questionável que para o ladrão de desodorantes, o rigor foi implacável. Mas para um assassino que retirou a vida de um trabalhador, fugindo do local do acidente sem prestar socorro, a ''meritíssima'' tenha decidido abrandar, deixando-o livre, leve e solto.
Para um desempregado, assumidamente viciado em crack, o pesado martelo da justiça. Mas para o endinheirado, dono de uma Porshe avaliada em R$ 1 milhão, fica por isso mesmo e vida que segue, com exceção de quem a perdeu, assim como para os familiares que terão de lhe dar com a dor latente de uma perda abrupta, caindo diretamente na conta da irresponsabilidade de um homem que, ao pegar o volante em altíssima velocidade (e possivelmente embriagado, segundo testemunhas), assume o iminente risco de tirar a vida de outra pessoa.
Como já citado, o cometimento de crimes não pode ser justificado. E seguindo esta premissa, é extremamente válido o questionamento.
Uma vida foi tragicamente ceifada por um assassino, e não será reposta como um item de supermercado.