Por: Vicente Loureiro*

Cidades verticalizadas

Londrina ocupa o top 5 de cidades verticalizadas | Foto: Gustavo Carneiro

O censo de 2022, divulgado recentemente, traz uma notícia animadora: as cidades brasileiras estão crescendo verticalmente. Isso é resultado da expansão significativa do número de pessoas vivendo em apartamentos em comparação com as residentes em casas. Em 30 anos, esse percentual duplicou, passando de 6,6% para 12,5% ou de 9,6 milhões para 25,3 milhões de moradores de habitações verticais. Esse índice acelerou na última década, quando o incremento foi de 50%, indicando que a verticalização das cidades encontra-se em viés de alta, sem trocadilho.

Segundo o levantamento do IBGE, cerca de 50 cidades de porte médio e grande têm hoje mais de 1/4 de sua população residindo em apartamentos. Três delas (Santos, Balneário Camboriú e São Caetano do Sul) já ultrapassaram os 50% de moradores nessa situação. Um fato inédito que no futuro bem próximo pode ter a companhia de dezenas de outras cidades, entre elas Vitória, Porto Alegre, Viçosa, Niterói, Florianópolis, etc.. A imensa maioria, 43 delas, localiza-se nas regiões Sul e Sudeste, apenas 7 no Nordeste e Centro-Oeste e nenhuma no Norte do país. Tendo pelo menos metade inseridas em regiões metropolitanas.

Ainda segundo o Censo, cerca de 100 outras cidades apresentavam, em 2022, entre 10% e 25% de seus habitantes já morando em apartamentos. Nesse conjunto, também verificou-se uma verticalização acelerada nos últimos dez anos. Quando camparada a quantidade de apartamentos existentes hoje com a verificada no Censo de 1991, percebe-se que ela praticamente triplicou, pulando de pouco mais de 3 milhões de unidades habitacionais para quase 10 milhões. Essa produção recorde de novas moradias verticais correspondeu no mesmo período a 1/3 de todas as habitações construídas no país.

Tal processo de verticalização pode contribuir para o desenvolvimento mais harmônico e equilibrado das cidades, caso venha acompanhado de estratégias de densificação de áreas urbanas já dotadas de infraestrutura e bem servidas por transporte público. Além de ser a forma mais adequada de se promover a sustentabilidade ambiental, o adensamento urbano, como nos ensina Jane Jacobs, permite que "a cidade e sua vida nas ruas produzam urbanidade — a arte de ser cidadão".

Este fenômeno de cidades mais verticalizadas não ocorre apenas no Brasil. Durante os primeiros 20 anos deste século, a quantidade de grandes arranha-céus espalhados pelo mundo quintuplicou. Somam hoje mais de 3 mil, e a expectativa, para 2050, é que ultrapassem os 40 mil. Por aqui, estima-se que em 2030, cerca de 1/6 dos habitantes das cidades estejam morando em apartamentos. E na metade do século, esse número pode chegar a 1/4 de toda a população. O que significa dizer que teremos que construir tantos apartamentos quanto os existentes hoje.

Conduzir bem essa inevitável verticalização será um dos maiores desafios para as cidades e a economia brasileira. Não será surpresa se algumas cidades passarem a ter quase a totalidade de seus habitantes vivendo em moradias verticais, mais ou menos como acontece em Singapura, Xangai, entre outras cidades asiáticas. Dizem que projeções de arquitetos e urbanistas podem ser tão confiáveis quanto as dos economistas. Vale conferir.

*Arquiteto e urbanista

 

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