Por: Jolivaldo Freitas*

Futebol na Bahia era uma loucura

Arena Fonte Nova, onde Bahia manda seus jogos | Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

A gente fica triste vendo de saída as torcidas do Vitória e do Bahia levando bola nas costas logo no início do Brasileirão 2024. A Bahia tem tradição e sempre esteve entre os bons clubes do Brasil. Pena também que o Campeonato Baiano esteja tão fraco. O falecido jornalista e bombeiro, isso mesmo, ele era bombeiro, Valmir Palma, chamado de seu porreta, dizia nos anos 1970 que gostava de futebol, mas não suportava a Fonte Nova cheia. E isso foi num dia de jogo entre Galícia e Bahia.

Até hoje não entendo como é que os dirigentes do futebol da Bahia não promovem no fim do ano ou início do ano, por exemplo, um torneio rápido no Campo de Pìtuaçu, onde as cobras engordam caçando ratos, envolvendo times que até hoje – mesmo fora do circuito top – fazem parte do imaginário dos torcedores baianos. Tenho certeza que um torneio feito nas manhãs de domingo levaria os pais a irem com seus filhos e os avós acompanhariam. Era só acertar e ir em busca de patrocínio. Hoje tem patrocinador para tudo. Vi uma grande empresa de varejo patrocinando uma corrida de jegues. Burro é quem não apresentar um projeto.

Pois tenho certeza que seria interessante ver jogando a Leônico, chamado de Moleque Travesso e que se dizia ser uma filial do Bahia. O Galícia com sua camisa azul e Branco, chamado de Demolidor de Campeões ou azulino, O Fluminense de Feira com sua camisa em branco, bordô e verde, nunca entendi por que bordô, com apelido de Touro do Sertão. Tinha o Botafogo, cujo uniforme era diferente do seu primo do Rio de janeiro, com as cores vermelho e o branco, era carinhosamente chamado de moleque travesso. E o Guarany cujo escudo era um índio Tupy, que não ganhava de ninguém, tanto que até hoje tem que diga quando alguém vai fazer algo muito fácil: aí, vai pegar seu Guarany.

E acredite que na Bahia tinha grandes clássicos que não era BaVi. Os confrontos geravam um tititi danado entre os torcedores. Havia o “Clássico de Ouro”, entre Ypiranga e Galícia, e o “Clássico do Povo”, entre Ypiranga e Bahia. O Redenção, que não lembro da cor da camisa era assim: chegava na Fonte Nova dava uma goleada em algum time e no jogo seguinte levava uma goleada. Um clássico que agitava os torcedores era Bahia contra o Galícia. Quando se enfrentavam Botafogo e Bahia era o “Clássico do Pote. Pode acreditar que o campeonato baiano era tão envolvente que tinha selim de bicicleta com o escudo amarelo e preto do Ypiranga, cinzeiro com a marca do Galícia e flâmulas. Muitas flâmulas bonitas para colocar na parede da sala de todos os times.

A senhora sabe quem marcou o primeiro gol na fonte Nova. Não foi ninguém de Bahia ou Vitória. Foi Antônio que não sei o sobrenome, do Moleque Travesso, do Botafogo. Vindo do interior o Fluminense de Feira metia medo na Fonte Nova, enquanto o Ideal de Santo Amaro da Purificação, terra e Caetano Veloso, era uma mãe. Deixava todo mundo ganhar. Até hoje gosto do Ypyranga que era time de Irmã Dulce, meu avô e Jorge Amado. Zélia Gattay Amado, mulher de Jorge era Leônico. Time bom. As agremiações batiam um bolão. Hoje sumiram, praticamente e só jogam babas ou peladas. Uma pena

*Escritor e jornalista. Autor do romance “Os Zuavos Baianos contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás". E outros livros.