Por: Emanuel Alencar*

Crise do tolueno e verdades inconvenientes

Canal de Imunana, do Sistema Imunana-Laranjal, foi contaminado por tolueno | Foto: Governo do Rio

Iniciada há quase 20 dias, a crise do composto químico tolueno na bacia do Guapi-Macacu, no Leste Fluminense, está longe de resolvida. As concentrações do contaminante continuam altas nos arredores do Polo GasLub Itaboraí, em canais que jogam água no Rio Guapiaçu, em Guapimirim. E a força-tarefa do governo do estado, montada para investigar o caso, segue com dúvidas sobre a origem do poluente - usado como solvente e na mistura da gasolina. O episódio, dramático, alude a uma série de questões que merecem ser avaliadas com cuidado. Neste artigo quero me ater a duas delas: a fragilidade da fiscalização ambiental (em várias esferas do poder público) e a ausência de um programa consistente de restauração florestal no Rio.

Ninguém, entre os 2 milhões de moradores de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, parte de Maricá e Ilha de Paquetá, bebeu a água contaminada - mas há fazendas no local e há suspeitas de que o gado possa estar sendo contaminado. É dramático, é tenso. Mas o fato é que a situação é bem mais complexa do que uma interrupção de 60 horas do abastecimento. Tudo poderia ter sido evitado - ou certamente minimizado - com ações preventivas: depois de o caldo entornado, as complexidades são inevitáveis. A região acometida pela crise aguda carece de vegetação - são 4 mil hectares a serem reflorestados. Vegetação que poderia ajudar na resiliência de um território tão fundamental para a vida - em suas diversas formas - fluminense.

O alerta do Instituto Chico Mendes deve ser ouvido: não existem florestas protetoras dos cursos d’água em nenhum lugar, as margens estão erodidas, os rios rasos e assoreados com diques rompidos e comportas insuficientes. É assim na bacia do Guapi-Macacu. É assim também na bacia do Guandu (que abastece 9,5 milhões no Grande Rio), e em todo o Paraíba do Sul (cujas águas garantem a vida de 14,2 milhões de pessoas). Há uma toada em curso que implica o desmonte do Sistema Nacional de Meio Ambiente (instituído pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente).

O drama do tolueno, arrastado e preocupante, não é raio um céu azul. É resultado de gestões ambientais federais, estaduais e municipais precárias e de um olhar descuidado e apenas focado em paliativos. Em concentrações elevadas, o tolueno pode causar danos ao sistema nervoso central, aos rins e ao fígado. Fadiga, náusea e dores de cabeça acometem pessoas que ingerem tolueno em concentrações baixas. A coisa é muito séria.

A Petrobras, embora sublinhe que nada tem a ver com a contenda, está ajudando as equipes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e da Cedae. Não faz mais do que sua obrigação. É imperativo que tenhamos respostas mais claras e definitivas sobre o caso. Falta transparência. Trata-se de grave crime ambiental, cujo autor ainda permanece desconhecido. Licenciamento ambiental não pode ser peça de ficção e a atuação preventiva é o caminho para evitarmos problemas futuros.

*Jornalista