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Filho é filho e ponto final

Recentemente, mais um caso de um filho matando os pais — e a irmã — tomou conta de todo o noticiário brasileiro. De fato, é uma informação necessária que a sociedade deve ter ciência, porém, será mesmo que a forma que alguns colegas da imprensa abordam o assunto é sinônimo de ética e responsabilidade?

Noticiar um caso grave desse, como tantos outros já ocorridos em nosso país, é importantíssimo. Mas, é necessário fazer uma reflexão de que nem tudo é preciso ser apontado e que suas consequências, às vezes, mesmo que de forma indireta, pode afetar a vida de outras pessoas. No caso citado acima, vimos diferentes veículos de comunicação destacando que o adolescente era filho adotivo do casal. Em que muda trazer tal informação tão destacada como alguns fizeram? Será que de fato ser um filho adotivo o torna mais propício a realizar tal crime? Com certeza a resposta é não! E isso se concretiza com os tantos outros casos envolvendo filhos biológicos, temos até aqueles que viraram documentários, por exemplo.

Nós jornalistas precisamos prestar atenção nos mínimos detalhes daquilo que escrevemos ou falamos, uma vírgula colocada de forma equivocada pode prejudicar e muito outras pessoas.

Como uma família, que está em processo de adoção, vai absorver de forma totalmente 'tranquila' o destaque de que um filho adotivo matou os pais? Será mesmo que certos textos não podem influenciar para que eles repensem em tal ação que estão dispostos? Vamos além, como os parentes dessas famílias vão aceitar este novo ou nova integrante de forma totalmente positiva e afetiva?

Fala-se tanto sobre conscientização sobre gênero, cor e religião; combatem tanto o preconceito que está impregnado na sociedade, mas é muito difícil lermos sequer um parágrafo que ressalte a importância da 'parentalidade adotiva', que é tão válida e legal quanto qualquer outra.

Aquela famosa expressão 'pai/mãe é quem cuida' deveria ser levada mais a sério por muitos que ainda acabam trazendo a adoção como fator para algum tipo de diferença ou discriminação. Quando elaboramos uma reportagem, não falamos que um filho é biológico, mas sim, somente filho. Quando a criança ou adolescente é adotado, ele também não se torna filho? Então, qual é a necessidade de estampar que o indivíduo foi adotado trazendo um viés negativo? Nenhuma.

Finalizamos este editorial com as sábias e importantes palavras da presidente do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo (GAASP), Cecília Reis, através de carta aberta aos veículos de comunicação: "É necessário parar de permitir que os outros enxerguem essas famílias como famílias de menor valor e que se vejam no direito de intervir, influenciar ou mesmo invalidar esses laços".