As recentes enchentes que tanto afetaram a sensibilidade dos brasileiros, em geral, e a vida dos gaúchos, em particular, em múltiplas dimensões, levam-nos a refletir sobre a nossa indiferença histórica relativamente a dois grandes males crônicos que comprometem o avanço brasileiro na construção de uma sociedade saudável, próspera e feliz. Referimo-nos à ausência de saneamento básico, para mais da metade da população brasileira, e ao péssimo sistema de educação pública, do fundamental ao universitário, dominante no País. Registre-se que a Bahia, com índice de Desenvolvimento Humano de 0,660, ocupa a 22ª posição, entre as 27 unidades da Federação, acima, apenas, da Paraíba, Piauí, Pará, Maranhão e Alagoas. Enquanto perdurar esse lamentável status quo da miséria, a Bahia continuará liderando em número de analfabetos, desempregados, tuberculosos, chagásicos, leprosos e homicidas, tendo algumas de suas cidades entre as mais violentas do Território Nacional.
Na sociedade do conhecimento em que vivemos, com a inteligência artificial na ordem do dia, não têm futuro de qualidade os povos que negligenciarem no reconhecimento da educação como a maior das prioridades, na contramão da pauta dos partidos políticos terceiro-mundistas que pugnam para nos assegurar ensino de má qualidade como fator prioritário para manutenção do poder, como acontece na Região Nordeste, onde a maioria da população elege os seus algozes, constituindo, em escala nacional, o fenômeno da Síndrome de Estocolmo, caracterizado pela necessidade psicopatológica da vítima amar os seus títeres. O tema tem sido objeto de reiterados e robustos estudos acadêmicos. Desgraçadamente, observa-se o predomínio no comando da educação brasileira de personalidades que pugnam por venezuelar e nicaraguar o Brasil. No plano da Economia, a crescente redução da participação de nossos manufaturados na pauta das exportações, por falta de mão de obra de qualidade, que decorre da má educação recebida, como tem sido repetidamente advertido pela Confederação Nacional das Indústrias, é o sintoma mais evidente.
Menor não é a importância do acesso a saneamento básico de qualidade para a prosperidade, felicidade e bem estar dos povos. A OMS, Organização Mundial de Saúde, aponta o saneamento básico como um dos principais fatores determinantes da saúde dos povos. Milhões de pessoas morrem todos os anos, sobretudo nos países de baixa renda, em consequência da precariedade de sua infraestrutura sanitária, bastando mencionar que 88% das mortes provocadas por diarreia decorrem de más condições sanitárias, representando as crianças, 1,5 milhão, 84% das vítimas. Essa é a segunda maior causa da morte de crianças, abaixo dos cinco anos de idade, no mundo. Pesquisas realizadas pela Oxfam chegam às mesmas conclusões. Em estudo disponibilizado na Internet, sob o título A distância que nos une, a Oxford Famine – Oxfam - concluiu, tomando como campo de análise os bairros paulistanos Tiradentes, destituído de saneamento básico, e o rico Higienópolis, dotado de excelente infraestrutura sanitária, que a longevidade dos habitantes do primeiro é de, apenas, 54 anos de idade, enquanto a dos últimos sobe para impressionantes 79 anos. Sem falar no enorme prejuízo que os primeiros sofrem, desde os primeiros anos, por serem alvo de doenças de transmissão feco-oral, sobretudo a diarreia, que se multiplicam tanto nos períodos chuvosos quanto nos estivais, como a cólera, a giardíase, febre tifoide, shigella e outras. Estima-se que com uma fração dos recursos historicamente dispendidos para tratar dessas doenças, teríamos construído uma rede de coleta e tratamento de esgoto que as evitaria, tornando nossa gente mais feliz e mais produtiva.
O Instituto Trata Brasil, através da pesquisadora Denise Kronemberger, produziu um estudo destinado a estabelecer a relação direta entre essas doenças e nosso deficiente sistema sanitário, tomando como referência os 100 mais populosos municípios brasileiros, entre os anos de 2008 e 2011. Os resultados foram virtualmente lineares entre infraestrutura sanitária e o número de internamentos por essas doenças.
Enquanto continuarmos indiferentes à importância da educação e do saneamento básico na construção de nosso futuro, o Brasil continuará a ser considerado, no plano internacional, uma República de Bananas, cujo povo se deixa embalar pela ilusão de ser o País de um futuro que nunca chega.
*Jornalista e advogado. Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia