Por: Arnaldo Niskier*

A tragédia no Sul

Chuvas causaram uma catástrofe no Rio Grande do Sul | Foto: Carlos Macedo/Folhapress

Os mortos são muitos. Há ainda um grande número de desaparecidos. Não se tem ainda a noção exata do tamanho da tragédia que abalou o Sul do país. Merece a nossa integral solidariedade, inclusive pelo ineditismo das suas proporções. Não há comparação possível.

São quase 2 milhões de pessoas afetadas. Não se tem lembrança de algo semelhante, na história do Brasil. As manifestações de apoio à população gaúcha têm sido múltiplas. A cada momento a gente se surpreende com mais uma atitude solidária. Outro dia, no Teatro Casa Grande, a atriz e acadêmica Fernanda Montenegro disse que toda a renda do seu espetáculo em homenagem a Simone de Beauvoir seria destinada às vítimas da tragédia das águas. Um gesto bonito, que vem se repetindo em outros cenários.

As vítimas são seres humanos e muitos animais, como temos acompanhado pela televisão. A invasão das águas transtornou a vida no Rio Grande do Sul, inclusive em muitas escolas. Levará meses para que tudo entre nos eixos. Estaremos torcendo e ajudando para que isso se faça no menor tempo possível.
Registre-se a reação de determinada repartições oficiais, como a Marinha do Brasil, que deslocou navios, médicos e helicópteros para os locais inundados. Como eu sou oficial da Reserva da Marinha, senti orgulho dessa força singular, que não mediu esforços para prestar socorro de qualidade ao povo gaúcho. Foi uma forma de minorar o seu sofrimento.

Esse fato lamentável poderia ter sido evitado? A resposta é positiva, bastando que os sistemas de prevenção tivessem sido acionados a tempo e a hora, o que não aconteceu, sobretudo por desídia de prefeitos incompetentes. Há uma outra triste particularidade: o envelhecimento dos equipamentos que cuidavam dessa proteção indispensável. Surgiu agora a crítica de que o prefeito Nelson Maculan, na sua época, zerou a rubrica da manutenção, o que é um verdadeiro absurdo. Sem a intervenção do homem não se torna possível domar as forças da natureza – e isso é mais do que sabido.

Um estado tão querido, com teatros praticamente em todas as suas cidades, não merece esse tratamento desleixado, que pode levar a tragédias desse porte. Há muito o que fazer para recompor o Estado, depois da crise climática, que custará 19 bilhões aos cofres públicos.

*Escritor. Membro da Academia Brasileira de Letras