Intolerância desenfreada é um caso de polícia
Não é de hoje que constatamos e denunciamos sucessivos casos de intolerância religiosa no Rio de Janeiro e em todo o país. Mas o ápice do problema não é tão somente o cometimento desses crimes de ódio, por parte daqueles que não suportam o contraditório e não aceitam em hipótese nenhuma que a fé alheia seja professada. Esse fenômeno absurdo vai na contramão dos princípios de liberdade e respeito à diversidade, ganhando proporções quando são denunciados. Afinal, ter pleno conhecimento de uma agressão pelo simples fato da prática de determinada crença religiosa (principalmente das religiões de matriz africana) e não denunciar, é sinal de passividade e até mesmo de cumplicidade.
O caso mais recente e amplamente divulgado, aconteceu na Zona Norte do Rio, no bairro Engenho de Dentro. Uma mulher, praticante da umbanda, foi agredida pela vizinha, com razões explícitas por exercer a sua profissão de fé. A vítima estacionava o carro na porta de casa, e no exato momento em que iria retirar as compras do veículo, foi brutalmente surpreendida com as agressões, tendo sua cabeça batida contra o carro por inúmeras vezes. O ato de violência deixou marcas não apenas na cabeça, mas olhos, queixo e nos braços da vítima. O caso foi registrado pela polícia como crime de intolerância religiosa e agressão. No entanto, não foi a primeira vez que foram feitas denúncias contra a agressora. Anteriormente, ela já havia registrado outros ataques relacionados à sua religião. Em vídeo, feito de dentro do apartamento, é possível ouvir a voz da vizinha ao fundo usando a palavra "macumbeira", como forma de atacar a vítima. A Polícia Civil diz que prossegue com as investigações do caso, tendo ouvido todos os envolvidos no caso. No entanto, é preciso que se cobre medidas enérgicas para penalizar quem flagradamente comete este tipo de atrocidade. Não se pode normalizar ou permitir que mais este caso entre para a estatística sem que haja uma severa penalidade. Que a ignorância impera toda vez que as religiões afro são atacadas, isso não temos dúvidas. Agora, mais uma demonstração do quão perigosa é esta mesma ignorância. Casos assim precisam do martelo pesado da Justiça.