Muitos dizem que a voz das ruas é mais soberana do que os desejos dos políticos, principalmente no período eleitoral. Pegando como base o conceito de Jean-Jacques Rousseau e a tradução livre da palavra "democracia" — poder do povo — nada mais justo do que respeitar aquilo que a população pediu ao eleger a nova Assembleia Nacional. Porém, parece que este não está sendo a vontade do líder francês Emmanuel Macron.
Por ironia do destino, logo no país onde surgiu esse movimento de "liberdade, igualdade e fraternidade" está acontecendo a hecatombe de não se ouvir a população após uma convocação antecipada das eleições parlamentares, às vésperas dos Jogos Olímpicos, botando a perder toda a estrutura política montada para a competição, por uma votação meteórica da direita, no parlamento europeu.
Macron jogou pesado, duro e quase pôs tudo a perder. Só que não está cumprindo o seu deve democrata, mesmo que a liança tenha sido de forma indireta. A França não está mais gostando de seu governo e o recado foi dado, com a esquerda ocupando mais cadeiras que a centro-direita na Assembleia Nacional, porém, se unidas, ficam com a maioria. Este está sendo o grande problema. Não por parte de Jean-Luc Mélenchon, o líder da esquerda, e sim por Macron, que tentou manter seu primeiro-ministro, mesmo sendo a segunda força na atual composição.
Depois de tanto ouvir, parece que, agora, caiu em si e aceitou a renúncia de Gabriel Attal. Resta saber se vai seguir os preceitos dos filósofos franceses iluministas ou rasgar as conjunturas políticas de séculos passados e peitar a indicação da esquerda para o cargo de primeiro-ministro da França. Até lá, o país terá um comandante interino com o novo sendo, provavelmente, anunciado depois das Olimpíadas.
O exemplo da França não pode ser ignorado e deve ser tratado com respeito. Se o dito popular diz que "a voz do povo é a voz de Deus", então, a vontade popular precisa ser maior do que a soberania política. Um belo recado para o Brasil, ainda mais em período eleitoral.