"Avantes filhos da Pátria, que a glória está por vir". Quem lê, não se recorda, mas esta é a primeira estrofe de um dos hinos mais famosos do mundo: "La Marseillaise". Há 235 anos, o povo francês iniciava a luta contra o Absolutismo da monarquia e uma melhor condição de vida. A Revolução Francesa estourava no país e, em 14 de julho, um marco a sacramentou: a tomada da Bastilha, a prisão dos revoltosos, libertando todos e destruindo a fortaleza de Luís XVI.
O que hoje é o hino da França, lá atrás fora o canto dos revolucionários. Sua letra é uma comoção e a melodia, eternizada. "La Marseillaise" é mais do que uma música ou ópera: é uma grande lírica atemporal, que pode muito bem ser utilizada para a França atual.
Se em dois séculos atrás a luta era contra a monarquia, para muitos, hoje, é contra um déspota esclarecido que, apesar de ter uma constituição sob seu domínio, parece não querer respeitá-la afinco.
Macron é um político hábil e sábio, mas está pecando justamente onde não deveria: no povo. Quem o elege é a população e, sem o apoio dela, não conseguirá nem fazer o sucessor. E o preço está sendo a ascensão de Marine Le Pen, com suas ideias mais radicais, com chance de ocupar a presidência da França em 2027.
Se em 1789 a população lutou contra as forças afixiadoras, numa batalha que durou 10 anos, com várias constituições e governos, até Napoleão subir ao poder em 1799, hoje é o poder das urnas contra a loucura de um soberano.
Que a vontade popular reine em 2024, para não acontecer o mesmo de 325 anos atrás, com rebelião e forças de segurança nas ruas. Que os filhos da Pátria fazem a glória do povo ser a feliz ou a melhor possível, sem armas.
A França Revolucionária de 1789 mudou o mundo, fazendo a democracia surgir no panorama político. Agora, que o país que a criou cumpra o seu papel, como grande anfitrião da divisão dos três poderes.
*Historiador e jornalista