A imprensa brasileira odeia o empresário - por quê?

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Quando eclodiu o escândalo de fraude na Americanas S/A, antes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Comissão de Valores Mobiliários chegar a qualquer conclusão, a imprensa brasileira já tinha uma: a culpa era do trio 3G.

Não importava que se tratava da maior e mais robusta fraude a que o capitalismo brasileiro já assistiu.

Não interessava que as investigações estavam apenas começando e, mesmo embrionárias, já apontassem para um pivô, o ex-CEO Miguel Gutierrez.

A mídia escolheu como alvo o grupo formado por três dos maiores empresários do país e passou a sugerir insistentemente que estivessem no centro deste escândalo, mesmo que o "jornalismo de instagram" tenha se mostrado incapaz de conceber um motivo para empresários renomados fraudarem balanços de uma empresa que, em dividendos, não havia distribuído sequer o valor que eles investiram na aquisição.

Mais de um ano depois, com as investigações maduras, o que se sucedeu foi a prisão do ex-CEO, que já estava em Madri, bem como o anúncio de que a fraude foi orquestrada a partir de um mecanismo que envolveu diversas figuras do alto escalão da Companhia, dedicados, justamente, a ocultar as manobras contábeis de quem? Do Conselho de Administração.

A bola da vez na mira da imprensa brasileira são os irmãos Batista. Os donos da maior empresa de proteína animal do mundo, para a mídia tupiniquim, deveriam se exilar em outro país e nunca mais fazer negócios por aqui.

Qualquer empresa em que invistam vira, de imediato, matéria sensacionalista sob uma roupagem de matéria especializada. Afinal, onde já se viu reportagem do caderno de negócios ganhar post no Instagram de jornal impresso e ser umas das mais clicadas na semana?

O negócio da imprensa no Brasil se tornou, perigosamente, um negócio de cliques e engajamento.

O alvo atual do reducionismo jornalístico é a Âmbar Energia, empresa que pertence ao grupo econômico dos irmãos Batista.

Será que ninguém mais se lembra da crise hídrica de 2021 e 2022, que gerou a necessidade de o país leiloar, em regime de urgência, a produção de energia para abastecer diversas regiões sob constante risco de apagão?

Essa contratação adotou bases extremamente agressivas que, para a surpresa de ninguém, acabaram sendo descumpridas por quase todos os vencedores do leilão, por total impossibilidade técnica - isso, ainda, no Governo Bolsonaro. Das 17 usinas vencedoras, apenas uma entrou em operação no prazo.

Soma-se a isso o fato de que um ano após a realização do leilão, as chuvas mudaram o cenário e melhoraram as condições de operação do sistema. Ou seja, os acordos foram a solução que o Ministério de Minas e Energia encontrou para evitar os encargos da manutenção de contratos não mais necessários.

O Governo Federal estava com esse abacaxi: 18,7 bilhões de reais contratados - isso só com a Âmbar Energia - quando o Ministro Alexandre Silveira acionou a SecexConsenso, uma iniciativa inovadora do TCU, voltada a encontrar soluções consensuais entre o governo e empresas.

Por esse caminho, foram feitos acordos com a empresa turca Karpowership do Brasil (KPS) e seus 4 projetos de térmicas (Karkey 013, Karkey 019, Porsud I e Porsud II), e com o BTG Pactual, referente às usinas Linhares, Termelétrica Viana e Povoação Energia. Não houve polemização sobre isso.

Voltando à Âmbar: na busca consensual por uma saída que evitasse que a questão fosse judicializada e, consequentemente, arrastasse-se por anos sem uma solução, acordou-se a redução dos contratos, de mais de 18 bilhões, para 9,4 bilhões de reais, além da aplicação de uma multa de 1,1 bilhão, que passou a ser devida pela empresa, pelos atrasos no cumprimento do contrato.

Mas o que a imprensa vê e alardeia? Basta dar um google, preguiçoso, sem muita necessidade de pesquisa, para se constatar: "os irmãos Batista levam contrato de 9 bilhões do Governo Federal".

Para entender que, em verdade, a saída que o Ministério de Minas e Energia alcançou com a Âmbar põe fim a uma disputa em torno de um contrato impraticável e reduz para a metade os custos desta contratação, aí sim é preciso pesquisar e se aprofundar.

Por que o jornalismo brasileiro optou, nos últimos anos, pela cruzada contra o empresariado que personifica o capitalismo do país? É preciso refletir. Os grandes grupos de imprensa acostumaram-se a eleger e destituir presidentes no Brasil.

A perda deste poder implica na perda individual do poder de cada figurão destes grandes grupos, hoje em cruzada contra o "capitalismo" e, também, contra o "governo", seja ele qual for.

Para o antigo "quarto poder", o importante é sempre mandar, decidir, colocar e retirar.

Quem decide o que é "golpe" e o que é "revolução"; quem nomeia o "herói" e o "corrupto"; quem determina aqueles que sairão nas capas, vestidos de Superman e aqueles que serão retratados como a escória do país não quer (e não irá) perder este poder invisível, assim tão facilmente. Não sem lutar.