Nos versos da célebre Sinfonia de Brasília, que compôs com Tom Jobim, Vinicius de Moraes iniciava dizendo: "No começo, era o ermo…"
Na verdade, o "ermo" se chamava Fazenda Bananal, que se estendia até Planaltina. Ali, instalou-se em 1957 pelo engenheiro Joffre Mozart Parada, da Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a "estaca zero". É fascinante que, agora, essa "estaca zero" seja reencontrada com as obras de reforma do chamado Buraco do Tatu, a via que passa por baixo da Rodoviária, ligando as Asa Sul e Norte no Eixo Rodoviário.
E é também fascinante que essa estaca zero fique mesmo na interseção do "x" idealizado por Lúcio Costa. Como ele mesmo definiu, "o gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz".
O Buraco do Tatu é, de fato, o ponto no qual se encontram os dois eixos. Por cima, o Eixo Monumental. Por baixo, o Eixo Rodoviário. E ali está o Marco Zero.
O ponto estava escondido pelas camadas de concreto e asfalto da via. Redescoberto, ele fica como marco da impressionante saga da construção de Brasília. Em 1960, aquela primeira estaca zero era o início da impressionante construção da capital do país.
Espera-se que agora fique preservado. No meio da via, certamente não poderá virar um lugar de visitação. Mas fica como fascinante marco do início da epopeia brasiliense. Mas pode o Governo do Distrito Federal (GDF) pode de alguma forma agora preservar esse ponto e torná-lo visível.