Dr. Carlos

Por Cláudio Magnavita*

Carlos Carvalho recebe o carinho das netas na festa de seu centenário

Por Cláudio Magnavita*

Carlos Fernando de Carvalho era chamado por todos no Rio de Dr. Carlos. Uma reverência a um homem que marcou sua vida com pioneirismo e antecipando o futuro. Proprietário da Carvalho Hosken, Dr. Carlos deixou este plano na noite do último sábado (10), de causas naturais, pouco depois de completar 100 anos de idade. O seu legado é enorme . Transformou a Barra da Tijuca em uma referência internacional de estilo de vida. Construiu cidades dentro de cidades. Criou um lifestyle de bairro-cidade, como a Península, um condomínio de condomínios, que foi fruto da sua visão empreendedora. Construiu o Hilton Barra e, fiel ao plano de Lúcio Costa, implantou o Centro Metropolitano na Abelardo Bueno, a avenida mais bonita do Rio, com o paisagismo pago pela sua empresa.

A sua visão como apoiador da sociedade civil organizada transformou a Barra em referência de participação coletiva. Criou e apoiou as entidades locais. O Barralerta, do saudoso Kleber Machado, foi fruto da sua visão, da mesma forma a primeira central de monitoramento privada. A Câmara Comunitária, presidida por Delair Dumbrosky, é outro exemplo de realização e força coletiva. Poucos empresários atuaram tão estrategicamente em fortalecer e estimular as lideranças comunitárias.

A festa dos seus 100 anos, com ele já debilitado, foi um momento de emoção, já com um tom de despedida. Foi feita com muito amor pelos colaboradores e familiares. O Padre Jorjão deixou os presentes de olhos mareados ao relatar a trajetória de vida do Dr. Carlos. 

Ele foi fundamental para a Olimpíada de 2016. Aliás, os Jogos Olímpicos aceleraram em décadas planos que estavam no papel, entre eles o Ilha Pura e o Parque Olímpico, onde funcionava a pista de corrida e a Vila Autódromo. O centro de mídia foi construído na sua propriedade e a Vila dos Atletas dificilmente será superada. Tóquio e Paris não chegaram aos seus pés. 

O legado do Ilha Pura foi um case de sucesso no lançamento e projetou o crescimento que resultou na criação da Barra Olímpica, o novo bairro da cidade. Nunca 3600 apartamentos de luxo foram construídos simultaneamente. O parque público que envolve os condôminos é de tirar o fôlego. Os problemas que enfrentou com a crise da Odebrecht, pandemia e encolhimento do mercado foram criados por terceiros e ele soube tourear. Trouxe para a sua empresa a solução e as responsabilidades com a Caixa Econômica, financiadora do empreendimento. Poucas semanas antes de morrer, o Ilha Pura passou para o controle do BTG Pactual e liberou a Carvalho Hosken de um fardo, deixando a empresa livre para a sua retomada de crescimento e pujança empresarial. Ele partiu deixando a casa arrumada. Parece que esta grande pendência o segurava aqui e só a sua solução lhe traria a paz na eternidade. Coincidência também que ele parte em um momento final das Olimpíadas de 2024, período em que, oito anos antes, a sua obra teve reconhecimento planetário. Nos deixa com a medalha de ouro dos vitoriosos. Soube preparar sua sucessão e a entrega do bastão. Ocupou o pódio máximo dos empreendedores. Ele fez e viu a história acontecer. Uma safra de empreendedores corajosos que está em extinção. No topo da sua sapiência ele sabia que a sua passagem neste plano será eternizada pela sua obra e pelo seu legado de amor ao Rio e Barra da Tijuca, o bairro que ele construiu e transformou em sinônimo de qualidade de vida.

*Diretor de redação do Correio da Manhã