O impacto das redes sociais nas eleições de 2024

Por Pablo Tenório Cavalcanti*

A cada eleição, novas tecnologias e plataformas desempenham papéis importantes que impactam diretamente seus resultados. Em 2024, vimos o TikTok e as inteligências artificiais sendo amplamente utilizadas nas campanhas. Mas, até que ponto essas inovações trouxeram resultados concretos? Neste artigo, faremos uma análise sobre isso.

Não há como negar o impacto das redes sociais em nossa vida. Elas influenciam diretamente nosso comportamento, consumo e, a cada dois anos, desempenham um papel central na corrida eleitoral. No primeiro turno das eleições de 2024, ocorrido no último dia 6 de outubro, vimos os candidatos explorarem essas plataformas ao máximo. Conteúdos divertidos, sérios, bastidores do dia a dia, publicações impulsionadas (tráfego pago) — as campanhas exploraram uma ampla variedade de formatos e estilos.

Alguns candidatos aderiram às danças e tendências populares (algumas de gosto duvidoso), enquanto outros utilizaram as plataformas para desmentir fake news, um tema que por si só merece um artigo separado, dada a enorme quantidade de desinformação, especialmente no WhatsApp.

Houve também candidatos que souberam explorar bem o que as redes sociais têm de mais importante: a interação. Aliás, essa interação é o princípio básico das redes. A conversa com o eleitor, a troca de informações e a explicação sobre uma ideia ou proposta de plano de governo fazem com que o eleitor se sinta ouvido, aumentando significativamente a probabilidade de apoio ao candidato.

Nesta campanha, marcada pela popularização da inteligência artificial, o ChatGPT foi amplamente utilizado para criar roteiros de vídeos e textos para legendas de posts. Além disso, as ferramentas de IA generativa, capazes de criar imagens e vídeos, foram amplamente utilizadas, especialmente na produção de memes e conteúdos de ataque a adversários. Para as eleições de 2026, que terão uma abrangência nacional, essas ferramentas terão um papel ainda mais essencial na criação de conteúdo.

E por falar em criação de conteúdo, a grande estrela dessa eleição foi, sem dúvida, o TikTok. Com seu enorme alcance, especialmente entre os jovens, a plataforma foi muito explorada pelos candidatos. De acordo com o TikTok, um em cada quatro usuários têm menos de 20 anos. E, nesta eleição, o número de eleitores com menos de 18 anos, para os quais o voto não é obrigatório, aumentou consideravelmente. Os políticos se atentaram a isso e dedicaram-se a explorar essa parcela do eleitorado.

No entanto, dados da Datafolha mostram que 45% dos jovens entre 16 e 24 anos afirmaram ter sido influenciados por conteúdos políticos no TikTok durante as eleições de 2024. Esse dado demonstra o impacto crescente das redes sociais no processo de decisão dos eleitores mais jovens, que, em muitos casos, votaram pela primeira vez.

Observamos grandes nomes da política fracassarem em suas campanhas, mesmo com uma presença digital ativa e elevado engajamento. Um exemplo disso foi o candidato Pablo Marçal, em São Paulo. Apesar de seus milhões de seguidores e intensa atividade nas redes, ele não conseguiu chegar ao segundo turno. Em contraste, temos o exemplo de João Campos, reeleito em Recife com uma votação recorde. Mas o que diferencia um do outro? A entrega de trabalho. Enquanto Marçal, com toda sua influência nas redes, tentou (e conseguiu) tumultuar o cenário político de São Paulo, propagando fake news e criando narrativas para tentar chegar ao segundo turno, Campos trabalhou consistentemente sua imagem durante o mandato. Como sempre digo: quanto mais se trabalha durante os quatro anos, mais tranquila será a campanha seguinte.

Campos entregou resultados concretos. E é isso que vale para o eleitor. Os eleitores valorizam políticos que entregam resultados. Quando há trabalho e uma boa comunicação, o sucesso é inevitável. E essa é a mensagem que fica no final: o trabalho é o que realmente conta.

Além de tudo, o papel das redes sociais vai além da comunicação rápida e simples: seu impacto no comportamento psicológico dos eleitores é inegável. Estudos indicam que vídeos curtos e emotivos deixam uma impressão mais duradoura, especialmente entre o público mais jovem, que se engaja mais rapidamente com conteúdo visual.

Em outros países, como os Estados Unidos, nas eleições de 2020, vimos o TikTok ser amplamente utilizado por candidatos e apoiadores de ambos os lados do espectro político. A diferença, no entanto, foi o uso massivo de IA nas eleições de 2024 no Brasil, tornando esta uma das campanhas mais tecnológicas até hoje.

Olhando para o futuro, podemos prever que as próximas eleições trarão ainda mais inovação. IA's e algoritmos vão continuar refinando as campanhas, tornando-as personalizadas e cada vez mais envolventes. Ferramentas de realidade aumentada e hologramas podem estar a caminho, transformando os comícios virtuais e as interações eleitorais.

No entanto, uma coisa é certa: de nada adianta estar presente no TikTok sem um histórico de trabalho a ser apresentado. Observamos grandes nomes da política fracassarem em suas campanhas, mesmo com uma presença digital ativa e elevado engajamento. E, diante desse cenário, cabe ao eleitor estar atento e crítico quanto ao que consome nas redes. As plataformas digitais podem ser ferramentas poderosas de informação, mas também de manipulação. A escolha de um bom candidato vai além da tela e depende do histórico e das ações concretas ao longo do tempo.

*Publicitário e especialista em marketing político com mais de 23 anos de experiência