Alok: de Brasília para o mundo

Por

A história da música eletrônica no Brasil tem raízes profundas, mas curiosamente distantes do glamour dos grandes festivais internacionais. Nos anos 80 e 90, a cena eletrônica brasileira surgiu em contextos que misturavam o underground com a cultura popular, especialmente nas festas de aparelhagem do Pará e no movimento Dance Nacional de Manaus. Ali, sons eletrônicos eram reinventados, conectando-se às batidas amazônicas e criando uma fusão única de ritmos que reverberavam nas periferias.

O cenário mudou nos anos 2000, quando o house music começou a ganhar espaço nas festas e baladas de bairros nobres das grandes cidades brasileiras. Um dos responsáveis por essa popularização foi a série de coletâneas Summer Eletrohits, que se tornou um fenômeno ao levar as batidas eletrônicas para as massas. Para muitos brasileiros, foi a porta de entrada para um mundo sonoro novo, que antes era restrito a pequenos círculos de aficionados, mas que, na segunda metade dos anos 2000, tocava nas rádios e dava as caras na trilha de telenovelas.

Agora, mudando o cenário onde a música era tocada, que antes ressoava nas periferias amazônicas e nas favelas do Rio de Janeiro com o Funk Carioca, a eletrônica começou a embalar festas e eventos de alto padrão. Principalmente, nos que ocorrem em bairros de classe média-alta, como Águas Claras (DF), onde o DJ Alok cresceu. O som que antes animava festas em Belém e Manaus agora pulsava em clubes urbanos e sofisticados de Brasília, moldando uma nova geração de DJs e produtores.

Ao mesmo tempo, se popularizaram também as festas de som automotivo, em que moradores da periferia, que tinham melhores condições, não queriam se "misturar" com a ralé que estava dentro dos bailes. Ao invés disso, esses "playboys de periferia" preferiam ficar do lado de fora das baladas, onde estacionavam seus carros tunados e tocavam hits do "Eletro-funk" e "Eletro-house". Nesse contexto, se popularizaram festas como Abelbeetle e Abelvolks, destinadas ao som automotivo focado em graves.

É a partir desse cenário que Alok, jovem de Águas Claras com uma boa qualidade de vida, surge como o principal nome a levar o "Brazilian Bass" — estilo que ajudou a definir — para o cenário internacional. Hoje, ele ocupa a quarta posição no ranking mundial de 2024 da DJ Mag e acumula hits como "Hear Me Now" e "All By Myself", que somam centenas de milhões de reproduções no Spotify. Mas a pergunta que fica é: como esse brasiliense, que cresceu em um ambiente musical tão diversificado, conseguiu popularizar um som brasileiro em um palco tão competitivo?

A resposta está na capacidade de Alok de conectar suas raízes com uma linguagem musical global. Ainda assim, há uma ironia em tudo isso. A música eletrônica, que nasceu em contextos populares e periféricos no Brasil, hoje domina as festas mais elitizadas. Enquanto a música eletrônica embala festas luxuosas e sofisticadas, a mesma cultura eletrônica que brotou nas ruas de Belém e Manaus continua marginalizada e, muitas vezes, invisível para o grande público.

Independentemente dessas contradições, o fato é que Alok conseguiu algo notável: ele colocou o Brasil no mapa da música eletrônica global.Os blocos mundiais são criados por afinidades políticas, econômicas ou sociais entre os países — ou mesmo as três características. No chamados Brics, que engloba