Sarney escritor

Por Aristóteles Drummond

Está sendo lançada a sétima edição de "Norte das Águas", primeiro livro de ficção de José Sarney, de 1969. A política conviveu com a literatura ao longo da carreira deste admirável brasileiro, cujo reconhecimento e os títulos nunca afetaram a simplicidade pessoal e a bondade na alma. As duas atividades relevantes e que pedem atenção também não interferiram na correção da figura humana de afetuoso filho, marido e pai. E bom, correto e generoso amigo.

Sobre José Sarney pode-se afirmar sem risco de erro que o ódio nunca entrou em seu coração. Teve motivos de ressentimentos, pelas injustiças e ingratidões que sofreu ao longo da caminhada. Mas em nenhum momento se deixou levar por legítimo sentimento de revolta.

A história desse livro inclui a edição inglesa com prefácio de Antônio Olinto, o grande acadêmico e romancista de "A Casa da Água", e a francesa com prefácio do imortal Jorge Amado. Em Portugal, prefácio de Alçada Baptista e, no Brasil, de Josué Montello, outro notável maranhense. Não é pouca coisa.

A edição é da Resistência Cultural, uma editora de alta qualidade, com sede em São Luiz e sob o comando de um jovem talentoso, Jose Lorêdo Filho, dono de uma das mais completas culturas da terra de Gonçalves Dias. Aliás, a importância dos editores-intelectuais deve de ser lembrada, inclusive pelas academias, pois, sem eles, os livros continuariam restritos. Nossa literatura muito deve a editores de cultura como Augusto Frederico Schmidt, José Olympio, Henrique Pongetti e, hoje, o admirável José Mario Pereira. São Luiz se inclui neste mapa no editor da Resistência Cultural, com um catálogo de grande qualidade.

Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardoso foram acadêmicos no exercício ou depois da Presidência da República e mais na cota de personalidades do que de escritores. FHC chegou a pedir que se esquecesse do que escreveu.

José Sarney ingressou na Casa de Machado de Assis seis anos antes de assumir a Presidência da República. Sua obra tem musculatura, poesia, contos e ele nunca deixou de ser o jornalista da mocidade e o amigo de Carlos Castelo Branco, Odilo Costa Filho e Ferreira Gullar, entre outros. Este sempre foi seu mundo, onde se refugiava do ambiente político nem sempre agradável.

Lembrar a personalidade e a obra desse brasileiro, que é hoje o nome mais respeitado como político experiente e de mãos limpas, é servir à democracia.

Precisamos superar este momento em que os figurantes, quase todos, não têm grandeza a ser reconhecida. Tem gente boa para entrar em campo, no modelo cívico e patriótico de José Sarney.