Por: Aristóteles Drummond

Cegueira bolsonarista

Os adeptos mais radicais do ex-presidente e futuro prisioneiro provavelmente Jair Bolsonaro insistem em ignorar as evidências robustas, não provas materiais, de seu infantil inconformismo com a derrota, o que levou a delírios conspiratórios inexequíveis. Também não querem admitir que nunca na história houve um líder popular de tal expressão, mas também despertando rejeição sólida a ponto de não ter viabilidade em disputas em dois turnos. As derrotas explícitas no Rio, Curitiba, Belo Horizonte e Goiânia para a direita e centro não são consideradas pelos seguidores.

Fatos são fatos. O homem passou dois meses dialogando apenas com militares e seu modesto círculo íntimo. Abandonou a gestão do país e, no final, o próprio país, em controvertida viagem em avião da Força Aérea, sem autorização do Congresso. Não teve quem lhe aconselhasse que o fizesse em um voo comercial, dos mais de seis por dia que ligam o Brasil, a Flórida.

Não teve uma palavra de bom senso para desativar os inacreditáveis acampamentos, de pessoas que protestavam contra as urnas, expondo aqueles bem-intencionados aos riscos de serem levadas a pagar as consequências inevitáveis. Aliás, no dia da eleição, revelava mais uma vez seu caráter ao declarar voto para o Senado em Daniel Silveira, e não na reeleição de seu correligionário Romário, de correta atuação ao longo do mandato.

Parece que as reveladas trapalhadas que o derrotaram e as questões envolvendo presentes, atestado de vacinas, somadas, ainda, a essa novela golpista farão por reduzir seu apoio popular, abrindo espaços para outras lideranças em condições de vencer o Lulo-petismo. Pode, pela segunda vez, favorecer as esquerdas com seu estilo raivoso.

O passivo de Bolsonaro inclui - além da construção da derrota improvável, pois fez bom governo - ter proporcionado esse revanchismo contra nossos militares, que o noticiário aponta mais para os aloprados do que para as lideranças que impediram a aventura aventada. Nota-se que os ministros que fizeram seu mandato positivo, Paulo Guedes, Teresa Cristina e Tarcísio Freitas, não aparecem em nenhum momento nestas gravações e articulações. Em termos de desserviço ao Brasil, fez barba, cabelo e bigode.

A democracia pede realmente que o Judiciário saiba cumprir seu papel, sem radicalismos e absurdos como as penas aos participantes do 8 de janeiro, a fim de abrir espaço para uma política mais saudável neste momento em que a crise na economia veio para ficar, e o futuro previsto não é dos melhores.