EDITORIAL | Em pleno 2024 e ainda existe isso?
Não é possível que estamos na era da tecnologia, na era em que a informação chega, praticamente, a nós todos de tamanha facilidade, sem nenhum esforço, e que ainda existam casos em que o racismo é 'travestido' de normalidade. Isso não tem lugar mais.
É inadmissível que, em pleno ano de 2024, ainda nos deparamos com declarações racistas que insistem em se mascarar de informalidade ou regionalismo. Expressões como "suas negas" não são apenas inapropriadas; são ofensivas e carregadas de um racismo estrutural que insiste em resistir ao avanço civilizatório e moral da sociedade brasileira. Já se foi a época em que a justificativa era 'jeito de falar', da 'cultura local' ou que 'não foi a intenção'. Muitos tentam justificar tal fala, mas acabam voltando a um passado escravocrata e discriminatório.
Por trás de uma 'simples' ou 'genérica' expressão que parece inofensiva e sem valor, há um sistema que continua a marginalizar e a diminuir a dignidade de pessoas negras. Quem pronuncia essas palavras com naturalidade ignora, ou até finge ignorar, o peso histórico e social que carregam. "Quem são suas negas?", a partir de agora será necessário esse questionamento quando escutarmos essa frase, como tantas outras presentes ainda em rodas de conversa. Aliás, vamos além... recentemente tivemos um caso em uma sessão de Câmara Municipal. Sim, existiu e a fala saiu de um representante do povo, eleito pelo povo. Feio e inaceitável, não?!
A liberdade de expressão — como também a liberdade de imprensa — tão valorizada em uma democracia, não pode ser usada como escudo para justificar o racismo. Palavras têm consequências e não devem cair na normalidade ou serem aceitas por meras 'não foi a minha intenção'... Já chega disso!
Já passou da hora da nossa sociedade mudar o vocabulário, abandonar essa ideia de que expressões de cunho racista são 'normais', que são 'mimimi' ou 'censura'. Isso é respeito, isso é saber evoluir.
Parabéns àqueles que batem no peito e defendem a causa, para quem rebate falas como essa e que vão até o fim e não aceitem, como boa parte da população, que foi um simples equívoco. O nosso país, de uma vez por todas, precisa se libertar do racismo que ainda insiste em perpetuar.