O amanhã é hoje

Por Josier Vilar*

A recente decisão do Copom, que elevou a taxa dos juros para 12.5%, levando o Brasil a 2ª maior taxa de juros do mundo, aliada à desvalorização do Real em relação ao dólar, traz imensos prejuízos para o ecossistema empresarial brasileiro. E impacta, especialmente, o custo de vida de todos os cidadãos, uma vez que os juros bancários aumentam e o preço dolarizado de todos os insumos e produtos importados encarecem.

Do pãozinho nosso de cada dia à passagem de avião, tudo tem seus preços aumentados em função desse quadro. O trigo e o querosene são dolarizados, assim como a imensa maioria dos produtos e serviços que consumimos.

Com exceção dos rentistas, nenhum setor da economia fica imune ao aumento dos juros ou à desvalorização do Real, ocasionados por uma pressão inflacionária decorrente, principalmente, da dívida pública e dos gastos crescentes com uma ineficiente e cara máquina governamental.

Não existe alternativa para o enfrentamento desse dilema em que nos encontramos que não seja através do aumento das receitas e/ou da redução das despesas com o custeio da máquina pública em seus três níveis: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Como não há espaço para aumento de impostos que possam incrementar receitas, a alternativa de curto prazo seria reduzir as despesas públicas, o que passa, necessariamente, por um choque de gestão para melhorar e automatizar processos operacionais, gerando eficiência e redução do desperdício, e limitar os altos valores salariais de parte do funcionalismo.

Para agravar o problema, estamos diante de um imenso desafio geracional. Estima-se que até 2040 o Brasil terá perdido o bônus demográfico e estabilizado sua população com tendência à redução. Seremos um país envelhecido e menor em termos populacionais.

Ou iniciamos agora uma reforma administrativa, que gere mais eficiência de gestão, e uma revolução educacional para o novo mundo da inteligência artificial, incluindo jovens em novo modelo pedagógico e idosos num modelo andragrógico de aprendizado para que todos possam responder aos desafios que vem pela frente, ou o Brasil caminhará, inexoravelmente, para o andar de baixo do processo civilizatório.

Se queremos alcançar o desenvolvimento nacional, não poderemos abrir mão de jovens e idosos na construção de um novo país. A perda do bônus demográfico atesta isso.

Sem uma imediata reforma administrativa, que reduza os custos da cara e ineficiente máquina, desperdícios e suspensão de benefícios salariais exorbitantes, além de renúncias fiscais inaceitáveis, não teremos saída.

Apesar de estarmos vivendo uma queda histórica na taxa de desemprego, de o PIB estar crescendo, da miséria e fome estarem reduzindo e do projeto "pé de meia" ser um sucesso na retenção escolar, o desafio é como manter esse quadro positivo somente pelo financiamento através do agronegócio, petróleo, soja e ferro.

Precisamos crescer em serviços e deixar de ser dependentes de inovações produzidas no exterior pagando royalties que nos endividam cada dia mais.

Para crescermos em serviços, principal vetor de expansão das economias modernas do mundo, temos de investir na inovação como fez a China.

O Brasil precisa criar as bases para o desenvolvimento nacional sustentável através da promoção de serviços inovadores baseados no modelo de economia colaborativa e criativa com parcerias entre governo, empresários e universidades com pensamento e práticas inovadoras e digitais.

Somente com esse tripé - governo eficiente, empresas arrojadas, universidades inovadoras - conseguiremos crescer, reduzir juros e valorizar o Real, gerando empregos de qualidade, renda, prosperidade, lucro e bem-estar social. A hora é agora.

*Médico e presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro - ACRJ