Surgiu finalmente a explicação da estranha opção de Jair Bolsonaro de uma eventual candidatura da mulher, Michelle, ou do filho Eduardo, na sucessão do presidente Lula. Como cabeças de chapa ou como vice dele, um deles assumiria a titularidade no caso de o registro ser negado face às condenações existentes e às que estão por vir.
Como não é bem um conhecedor da política e muito menos da História, daqui como a de lá de fora, militante por sete mandatos no baixo clero, apesar de bem votado, soube por terceiros de fato político relevante na Argentina. É o seguinte: terminada a interferência militar na Argentina, em 1973, com o terrorismo derrotado e um passivo estimado em mais de 20 mil mortos, dos dois lados, foram convocadas eleições, em que Juan Perón, o carismático líder argentino não pôde concorrer pois estava inelegível. O peronismo indicou o deputado Héctor Cámpora, que havia presidido a Câmara dos Deputados, e ele ganhou a eleição. Governou parcos três meses, pois, depois de anistiar todos os inelegíveis e presos, incluindo terroristas, renunciou para abrir caminho para a volta de Perón.
Cámpora e seu vice, Vicente Solano Lima, renunciaram e, convocadas novas eleições abertas a todos os argentinos, Perón foi eleito com 60% dos votos e tendo como vice sua mulher, Isabelita, de nacionalidade panamenha. O peronismo não tinha ideologia, pois Perón havia sido ditador pela direita, grande amigo de Franco de Espanha, teve na posse em 1973 a esquerda presente na pessoa de Salvador Allende, mas, quando morre, sua mulher assume e governa tendo como conselheiro maior López Rega, homem de formação conservadora.
Exemplo típico de que a história pode se repetir como farsa. Bolsonaro, iludido com o que lhe resta de popularidade e espaço político, pensa que o Brasil do século XXI aceitaria uma vergonha dessas. Eleito o fantoche e familiar, este o indultaria e renunciaria para a convocação de novas eleições. Claro que ele e seus asseclas têm todo direito a estes devaneios, mas o bom senso revela que a chance de êxito é zero. O projeto parece ser este. Quem viver verá.