Vivemos em um sistema democrático onde o poder, teoricamente, reside nas mãos do povo. Mas, de maneira paradoxal, o eleitor muitas vezes se torna uma figura passiva e desmemoriada. Um coadjuvante sem expressão.
O esquecimento do eleitor é um dos fenômenos mais preocupantes e recorrentes no cenário político brasileiro. Ele permite a perpetuação de práticas questionáveis, a reeleição de figuras políticas controversas e a manutenção de estruturas que favorecem interesses individuais em detrimento do coletivo.
É fato: na euforia das campanhas eleitorais, promessas inundam discursos, jingles dominam os meios de comunicação, e o entusiasmo cresce com a esperança de mudança. Contudo, terminado o pleito, as expectativas frequentemente se chocam com a realidade. Projetos esquecidos, políticas públicas negligenciadas e casos de corrupção abafados se tornam o cotidiano. Nesse momento, o eleitor, que deveria cobrar, reflete uma postura de apatia, muitas vezes esquecendo compromissos firmados durante a campanha.
Esse esquecimento não é um acaso. Ele é incentivado por um sistema político que se beneficia da falta de memória coletiva. Falta de educação política, desinformação e o bombardeio de novas crises fazem com que o eleitor perca o foco no passado, concentrando-se apenas no presente imediato. Além disso, a dinâmica política brasileira, marcada pela burocracia e pela lentidão nos processos, desestimula o acompanhamento das promessas feitas.
É urgente que o eleitor resgate sua memória e seu papel no jogo democrático. Mais do que votar, é necessário acompanhar, fiscalizar e, sobretudo, questionar. Vivemos na era da informação, e há ferramentas disponíveis para cobrar dos representantes eleitos transparência e coerência. Esse trabalho de vigilância contínua é a base de uma democracia saudável.
O esquecimento não pode ser a norma. Lembrar é resistir, é construir um país que respeite seus cidadãos e que, finalmente, realize o potencial de sua democracia. É preciso romper o ciclo de inércia para transformar indignação em ação. Afinal, como disse certa vez Bertolt Brecht, "o pior analfabeto é o analfabeto político". A memória, nesse contexto, é a principal arma contra a perpetuação da injustiça e do descaso.