Mulheres na política carioca
O Rio de Janeiro foi o pioneiro em acolher pelas urnas mulheres vocacionadas para a vida pública. Desde a Constituinte de 34, em que Nuta Bartlet James foi a feminista a pugnar pelo voto feminino. Logo na redemocratização, foi marcante a presença feminina na Câmara de Vereadores, com mulheres notáveis.
As primeiras seleções, em 47, 50 e 54, levaram à Câmara Municipal personalidades relevantes como Sandra Cavalcanti, Lygia Lessa Bastos e Adalgisa Nery. Tetrá de Teffé foi candidata a suplente do senador Mozart Lago, figura da história também.
Daí em diante, foi um crescer na presença e na qualidade das mulheres, como os casos de Daisy Lúcidi, Yara Vargas, Benedita da Silva, que foi a primeira senadora e governadora mulher, seguida de Rosinha Garotinho. Teresa Bergher, uma campeã de mandatos, sendo que hoje na Câmara Municipal são 12 as vereadoras, a começar pela veterana e campeã de votos Rosa Fernandes, talvez a decana na Casa. Alice Tamborindeguy, cujo pai foi deputado federal, teve mais de um mandato na Assembleia. Maria da Conceição Tavares, economista polêmica, brilhou na revisão da Constituição em 93.
O noticiário tem revelado irregularidades no atendimento à lei que fornece cota nas chapas às mulheres. Equívoco, pois elas nunca precisaram de cotas e agora fica difícil preencher um quarto das vagas, o que acaba por provocar candidaturas fantasmas com meia dúzia de votos. A lei tem de ser revista. No máximo, garantir a vaga para as que se dispuserem a disputar e detentoras de mandatos, como Jandira Feghali, que foram eleitas muito antes da lei. O Rio pode não atender a quantidade, mas vem acertando na qualidade.
Os cargos na esfera pública também têm tido boa presença feminina, com bons resultados, tanto ontem como hoje. Mas é claro que as nomeadas são pela competência e não pelo sexo. Temos de ultrapassar esta política de bom mocismo fora da realidade. Ocupante de cargo público tem de ser competente, seja de que sexo ou raça seja, assim como parlamentar deve ser quem tenha votos e não que seja mulher ou de outra opção. Este dispositivo na lei eleitoral só atrapalha.
O povo não vota por esse tipo de impulso. Se assim fosse, o ator Grande Otelo, negro, teria sido eleito quando foi candidato a vereador com a seguinte divisa: "Não vote em branco, vote em Grande Otelo".