2025: resoluções e dívidas
O relógio nem acabara de marcar meia-noite e dona Arcanja já tinha acabado de dar seus sete pulinhos no mar de Itapuã. Maré cheia. Despontava no horizonte o primeiro suspiro de 2025. Nas ruas, abraços calorosos e brindes entusiasmados celebravam o início de mais um ciclo. Entre o brilho dos fogos de artifício, as resoluções se misturavam ao som das risadas: emagrecer, viajar, aprender algo novo, ganhar dinheiro, saúde, menos violência.
Contudo, por trás da euforia e das promessas, muitas pessoas carregavam o peso plausível das dívidas acumuladas no ano que ficou para trás. Para alguns, a virada era menos um recomeço e mais um lembrete de que as contas vencidas ainda esperavam — agora agravadas pelos aumentos nos preços de serviços essenciais, como água, energia e transporte eu sempre grassavam logo nos primeiros dias do ano novo, estragando a festa. Depois da euforia das taças de sidra e espumantes doces a ressaca trazendo as imagens da Coelba, Embasa, Integra, Metrô, Aneel, farmácias e o cartão que ia entrar no vermelho pois era preciso pagar as compras da roupa nova, das lembrancinhas e dos amigos secretos.
Na manhã do dia 1º de janeiro, virada de 2024 para 2025, o sol brilhava alto em Salvador, velha capital do Brasil, mas sua luz intensa parecia incapaz de dissipar as preocupações financeiras que pairavam sobre dona Arcanja. Não tão jovem e ainda sonhadora, ela sempre quis abrir sua própria loja de roupas, mas os boletos empilhados sobre a mesa contavam uma história diferente. Além das dívidas habituais, ela agora precisava lidar com contas que chegavam com valores mais altos do que no mês anterior. Ao abrir a carteira, encontrou apenas algumas moedas desgarradas, como se refletissem o vazio que sentia. A alegria da noite anterior agora se traduzia em um aperto no peito, um eco de promessas que pareciam cada vez mais distantes.
Ela, porém, decidiu que não se renderia à sensação de impotência. Munida de um caderno e uma caneta, começou a listar suas despesas e dívidas. Linha por linha, os números deixavam de ser inimigos para se tornarem aliados em sua jornada de transformação. Entre cálculos e rascunhos, ela criou um plano: cortar os gastos supérfluos, renegociar dívidas e guardar uma quantia mensal para investir no seu sonho. O impacto dos reajustes nas contas domésticas a obrigou a ser ainda mais rigorosa, buscando alternativas para economizar água, energia e transporte. Mas, ao terminar sua lista, sentiu algo novo: controle sobre o futuro.
Na casa ao lado, João, um vizinho de longa data, também refletia sobre suas resoluções. Ele sempre sonhara em explorar o mundo, mas as dívidas do cartão de crédito, somadas aos aumentos nas tarifas, mantinham seus planos presos ao papel. Ao saber da determinação de Arcanja, sentiu-se inspirado. Logo, os dois começaram a trocar ideias sobre economia e planejamento financeiro. Juntos, criaram estratégias para poupar, aumentar a renda e, sobretudo, manter a motivação viva. O que começou como uma conversa tímida se transformou em uma amizade que alimentava os sonhos de ambos.
Assim, 2025 começou não apenas com promessas, mas com ação. Para Arcanja e João, as resoluções de ano novo deixaram de ser uma lista de desejos para se tornarem compromissos reais com o futuro. Eles entenderam que, antes de alcançar seus sonhos, era preciso enfrentar os desafios do presente, incluindo os impactos do custo de vida crescente.
Com coragem e planejamento, estavam prontos para transformar suas vidas, descobrindo que o verdadeiro brilho do novo ano não estava nos fogos de artifício, mas na chama que decidiram acender dentro de si. Porque, no final, cada dia traz a oportunidade de reescrever a própria história — e eles estavam determinados a fazer de 2025 um capítulo de conquistas e esperança. Decidiram até colocar vidros blindados nas janelas que davam para a comunidade. Um custo não planejado. Mas o ano apenas estava começando.
*Romancista e jornalista. Autor de "Histórias da Bahia - Jeito Baiano", dentre outras obras