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Desigualdade além da questão financeira

A recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) evidencia uma realidade que há tempos é negligenciada: a desigualdade social no Brasil não se restringe à questão financeira, mas também à falta de acesso a serviços básicos e oportunidades. Os dados levantados entre 2022 e 2023 revelam que a ausência de creches e escolas públicas em regiões periféricas afeta drasticamente a vida das famílias, em especial das mulheres.

Em Jardim Gramacho, bairro da periferia de Duque de Caxias, 61,8% das mulheres afirmam que não há creches e escolas públicas suficientes para que possam deixar seus filhos enquanto trabalham. O mesmo problema se repete em outras favelas da Grande Tijuca e no Complexo do Alemão, onde 32% das moradoras enfrentam a mesma dificuldade. A consequência? Mães que precisam escolher entre garantir o sustento da família ou cuidar dos filhos, crianças sem acesso à educação infantil e um ciclo de pobreza que se perpetua.

A falta de creches não é apenas um entrave econômico, mas um reflexo da negligência do poder público com populações vulneráveis. Sem esse suporte, mulheres perdem oportunidades de emprego, crianças são privadas de um ambiente essencial para seu desenvolvimento e famílias são obrigadas a destinar parte de sua renda, muitas vezes oriunda de programas sociais, para pagar cuidadores ou instituições privadas. O Estado falha ao não garantir um direito fundamental, o que gera impactos de longo prazo na estrutura social e econômica dessas comunidades.

A pesquisa do Ibase escancara a urgência de políticas públicas que enfrentem esse problema.