Em pleno século XXI, a imagem de crianças brasileiras sofrendo com a falta de acesso adequado à água deveria ser apenas um retrato do passado. No entanto, o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado no Dia Mundial da Água, revela uma realidade alarmante: 2,8 milhões de crianças vivem sem acesso adequado à água no Brasil, sendo 1,5 milhão em situação extrema, sem água canalizada em suas residências.
Apesar da redução de 31,5% no número total de crianças afetadas entre 2019 e 2023, a persistência desse problema expõe o abismo social que separa as diferentes regiões do país. A maior parte das crianças atingidas vive em áreas rurais, onde a falta de infraestrutura segue como um dos principais entraves ao desenvolvimento.
A desigualdade no acesso à água não é apenas um problema de infraestrutura, mas também uma grave violação de direitos. Sem água potável em casa, essas crianças enfrentam um risco maior de doenças, desnutrição e evasão escolar, perpetuando um ciclo de pobreza que deveria ter sido superado há muito tempo.
Como justificar que, em um país que figura entre as dez maiores economias do mundo, milhões de crianças ainda tenham que buscar água fora de suas casas? Como admitir que investimentos públicos não consigam sanar uma necessidade básica que impacta diretamente a saúde e o futuro de tantas famílias? A desigualdade no saneamento básico precisa ser combatida com políticas públicas mais eficazes e com investimentos adequados, priorizando regiões historicamente negligenciadas.
A água é um direito fundamental, e seu acesso não pode depender do CEP onde se nasce.