Inflação de alimentos não se dobra com baixa de impostos
Maior 'dor de cabeça' da equipe econômica, a resiliente inflação de alimentos não cederá pela simples 'canetada' de redução de impostos, como quer o Planalto. A avaliação realista e tecnicamente 'irretorquível' parte do economista e diretor-presidente da MCM Consultores, Claudio Adilson Gonçales, ao destacar a disparada de 6,2 do grupo alimentação, no período de outubro de 2024 a fevereiro de 2025, o que resulta em uma taxa anualizada de 15,53%.
Segundo o executivo, "esse é um item volátil em qualquer lugar do mundo, mas aumentos dessa magnitude impactam fortemente o poder de compra das classes de menor renda e geram desgastes na avaliação do governo. Portanto, é natural que os políticos tentem 'fazer alguma coisa'. Infelizmente, o problema é mais complexo do que parece".
Ao comentar que os alimentos, em geral, possuem baixa elasticidade-preço, em que as quantidades demandas apresentam variação inferior à dos preços, Gonçales lembra que, mesmo a estratégia das famílias de substituir produtos de menor valor esbarra no efeito altista de provocar, justamente, maior demanda e aumento de preços, nestes últimos. "Por exemplo, aumentos de preços da carne bovina acabam afetando toda a cadeia de proteicos", ilustra. Ele reconhece, também, que "as recentes altas de alimentos estão ligadas a quebras de safras decorrentes de problemas meteorológicos e à depreciação cambial de quase 20% nos últimos 12 meses".
Sua conclusão é de que o "ponto central é que as variações dos preços de alimentos são determinadas principalmente pelas flutuações da oferta. Reduções de tributos, como vêm sendo discutidas pelo governo para tentar conter os aumentos de preços, são claramente ineficazes".
O economista cita, ainda, relatório publicado em 2023 pela FGV Direito de São Paulo, em que é feita "uma grande compilação de estudos realizados para vários países [União Europeia e alguns para o Brasil], que estimam os impactos de mudanças nas alíquotas do Imposto sobre o Valor Agregado, o IVA (no nosso caso, o ICMS), sobre o preço final ao consumidor. A principal conclusão é de que as quedas de alíquotas não são diretamente repassadas como redução de preços aos consumidores, como geralmente se pensa".
Ainda sobre a pesquisa, o presidente da MCM Consultores comenta que, no caso do Brasil, "a pesquisa analisou alterações de alíquotas em 79 produtos alimentícios e as estimativas de repasse em vários Estados entre 1994 e 2021. A conclusão é de que apenas 13% das reduções de alíquotas beneficiaram o consumidor. Isso se deve, principalmente, ao fato de os alimentos terem baixa elasticidade-preço".