As ferramentas tecnológicas foram concebidas com a promessa de encurtar distâncias, facilitar o acesso ao conhecimento e melhorar a vida em sociedade. No entanto, a realidade mostra um cenário cada vez mais sombrio: em vez de conectar para o bem, parte dessas plataformas tem sido usada para espalhar medo, ignorância e preconceito — em especial, contra os mais vulneráveis.
Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas em parceria com a Autistas Brasil revela uma face preocupante desse problema. O volume de desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) cresceu mais de 150 vezes nas comunidades de Telegram da América Latina e do Caribe nos últimos seis anos.
Durante a pandemia, esse aumento foi ainda mais explosivo: 635%. Grupos que antes disseminavam teorias antivacina ou negavam o aquecimento global, passaram a mirar o autismo como mais uma frente de pânico moral e teorias conspiratórias.
É um dado que assusta — e revolta. O Brasil, tristemente, lidera esse ranking: 46% de todo o conteúdo conspiratório sobre autismo no continente circulou por comunidades brasileiras no Telegram, impactando milhões de pessoas.
Crianças e famílias que já enfrentam desafios diários em busca de inclusão, diagnóstico e tratamento adequado agora também precisam lidar com o peso de inverdades disseminadas em massa.
Esses grupos deturpam informações, criam narrativas falsas associando o autismo a vacinas, tratamentos "alternativos" perigosos e teorias infundadas. Ao fazer isso, promovem retrocessos, alimentam o preconceito e colocam vidas em risco.