A decisão da Anvisa, anunciada nesta quarta-feira, 16 de abril de 2025, de tornar obrigatória a retenção de receita médica para a compra das chamadas "canetas emagrecedoras" - como o Ozempic e outros análogos - é uma medida urgente, sensata e necessária. Em meio ao crescente consumo desses medicamentos, especialmente por motivações estéticas e sem acompanhamento profissional, a agência reguladora se antecipa a um problema de saúde pública que já vinha sendo sinalizado pela comunidade médica.
Esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para o tratamento de diabetes tipo 2, ganharam notoriedade por sua eficácia na perda de peso. Contudo, o uso indiscriminado e desregulado criou um cenário de preocupação: casos de efeitos adversos graves, como pancreatite, distúrbios gastrointestinais severos e até quadros de depressão, começaram a se acumular em consultórios e emergências médicas.
A popularização nas redes sociais, aliada ao fácil acesso em farmácias, transformou essas substâncias em soluções "milagrosas" para a perda de peso rápida, ignorando os riscos e complexidades que envolvem seu uso. Médicos e entidades de saúde vinham há meses alertando para a banalização dessas medicações, que muitas vezes são adquiridas sem qualquer indicação clínica, aumentando o risco de automedicação e de uso contínuo sem monitoramento.
A retenção da receita médica representa mais do que um controle burocrático: é uma tentativa de devolver ao médico o protagonismo na condução do tratamento. Não se trata de coibir o acesso, mas de garantir que ele ocorra com responsabilidade, critério e segurança.
Em um país onde transtornos alimentares e a medicalização da estética crescem em ritmo alarmante, cabe ao Estado intervir para preservar o que deve ser sempre prioridade: a saúde da população. A decisão da Anvisa é, portanto, um passo firme em direção ao uso racional de medicamentos e à valorização do acompanhamento médico qualificado.
A caneta não pode substituir o bisturi da consciência.