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Um freio para a automedicação

A decisão da Anvisa de tornar obrigatória a retenção de receita médica para a compra de medicamentos emagrecedores como Ozempic, Saxenda e Wegovy é um passo importante — ainda que tardio — no enfrentamento da crescente e preocupante onda de automedicação no Brasil.

A medida, aprovada por unanimidade pela diretoria da agência, busca conter o que já se configura como um grave problema de saúde pública: o consumo irracional de medicamentos que deveriam estar restritos ao tratamento de doenças sérias, como o diabetes tipo 2.

Mas o problema é muito maior do que o uso estético de substâncias para emagrecer. Vivemos uma era em que o acesso à informação não tem sido acompanhado da responsabilidade no uso dessa informação. Em redes sociais, influenciadores promovem fórmulas milagrosas; em grupos de mensagens, receitas de "bem-estar" circulam livremente. E, nesse contexto, o remédio — que deveria ser exceção, e não regra — tornou-se protagonista de uma perigosa busca por soluções imediatistas para angústias profundas.

Além dos emagrecedores e anabolizantes, cresce o uso indiscriminado de calmantes, ansiolíticos e antidepressivos. É preciso dizer com todas as letras: não é normal a banalização de medicamentos controlados como se fossem vitaminas. A medicalização da vida cotidiana é um reflexo direto de uma sociedade que prefere calar o corpo com pílulas a escutar o que ele está gritando.

É urgente que o Brasil avance na criação de uma regulação mais ampla e eficaz sobre a venda, o marketing e o uso de medicamentos de uso restrito.