Por: Francisco Soares Brandão*

O melhor é o Abel

Resta pouca areia na parte de cima da ampulheta do Brasil para a Copa do Mundo de 2026. As soluções tentadas até agora, com dois treinadores que na nomeação tinham grande apoio de opinião pública, não deram certo. A seleção vai se classificar, mas o desempenho nas eliminatórias não chega a animar.

Os supersticiosos dirão que isso não é problema, pois nas últimas duas vezes em que conquistou o título o Brasil vinha de eliminatórias medíocres. Os mais supersticiosos ainda lembrarão que o Brasil foi campeão em 1970 no México e em 1994 nos Estados Unidos. E a Copa de 2026 acontece nos Estados Unidos e no México, além do Canadá.

Mais coincidências. Quando o Brasil ganhou nos Estados Unidos em 1994 vinha de 24 anos de jejum. Como agora.

Se nunca é prudente subestimar a superstição, tampouco é inteligente depositar nela uma fé cega. Melhor é trabalhar para não depender tanto do imponderável. Nossa situação não é boa. Temos bons jogadores, mas na seleção não chegam perto do que desempenham em seus clubes.

E, pior, o mau desempenho recente do Brasil acelerou o afastamento entre time e torcida.

Infelizmente, a indiferença é o sentimento que parece prevalecer hoje em relação à antes querida e admirada seleção brasileira de futebol. Isso é inaceitável. É hora de interromper a descida ladeira abaixo.

Alguns argumentam que a razão dessa indiferença é a maioria esmagadora dos convocados jogarem no exterior. Se olharmos outros casos - o mais emblemático é a Argentina - veremos que é perfeitamente possível montar uma seleção com atletas que jogam fora de seu país e mesmo assim haver uma conexão emocional forte entre jogadores e povo.

Talvez a raiz do problema esteja em desempenhos abaixo da crítica, ou das expectativas, há muito tempo. Depois da conquista de 2002, nas cinco copas seguintes, só em uma chegamos à semifinal, em casa em 2014. E não é preciso lembrar quão triste foi o desfecho. Nas outras quatro Copas desde o penta, paramos nas quartas.

E tem mais. Se não vencermos daqui a um ano, teremos acumulado seis torneios seguidos sem a taça, algo inédito desde que a Copa começou a ser disputada, em 1930.

Com pouca areia na parte de cima da ampulheta, a margem de erro se estreita dramaticamente. A escolha do próximo comandante precisa evitar o terreno da experimentação e do modismo. O novo técnico precisa conhecer o futebol brasileiro e os atletas que jogam no exterior. Precisa ter uma trajetória provada de conquistas com diferentes elencos. E precisa trazer com ele o respeito e a admiração de atletas e torcida.

Carlo Ancelotti, José Mourinho, Jorge Jesus e Abel Ferreira são os mais falados. Qualquer um deles traria a necessária luz de esperança neste momento. Eu penso que os dois últimos são os mais indicados, por terem atravessado com sucesso grandes desafios no futebol brasileiro. Entre os dois, minha preferência recai sobre o atual treinador do Palmeiras.

Um bom comandante se revela quando monta grandes times e ganha títulos com diferentes elencos em diferentes situações. Diz a sabedoria popular que mais difícil do que chegar ao cume é manter-se nele. Abel Ferreira tem conseguido isso. Merece a oportunidade de fazer o futebol brasileiro dar a volta por cima.

*Sócio fundador da FSB