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A precarização exposta no milionário mercado das arte

Misto de performance e instalação, 'Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda' mostra com humor e crítica social a precarização do trabalho de vigias no milionário mundo das artes | Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de SP

É uma exposição? É uma instalação? É uma performance? É "Amador e Jr Segurança Patrimonial Ltda, nem profissional, nem sênior", uma mistura de tudo isso com pitadas de humor e crítica. Antonio Gonzaga Amador e Jandir Jr são os artistas que mergulharam nessa empreitada divertida e instigante, aberta ao público na sala 2 da Casa França-Brasil. Todo fim de semana, haverá um programa de performances.

Esta é a primeira exposição da dupla Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda. no Rio. Antonio e Jandir interpretam a dupla de vigias fictícios que fazem as maiores peripécias para garantir a segurança das exposições de arte em museus e instituições culturais, com o intuito de questionar o tão restrito e contraditório sistema da arte contemporânea.

A Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda. apresenta séries de propostas performáticas concebidas pela dupla é realizada em instituições de arte pelos próprios artistas trajados com uniformes de segurança, tendo seus problemas centrais advindos das relações entre instituições como essas e as pessoas que trabalham cotidianamente em suas salvaguardas.

Nascidos e criados respectivamente nos bairros de Brás de Pina e Penha Circular, no subúrbio da Leopoldina, Antônio e Jandir trazem o repertório de quem conhece bem as periferias para utilizar seus elementos em suas performances. Dois bons exemplos são os trabalhos "A rigor", em que realizam as rondas no museu usando sandálias e "Isopor", quando no, meio do expediente, abrem uma gelada e sentam na cadeira de praia com um cooler ao lado. Assim, vão construindo uma narrativa em torno de questões que evocam o trabalho precarizado no tão abastado sistema da arte, a relação do artista com os funcionários do museu e o papel da instituição no campo da arte.

"A ideia para esse trabalho surgiu da nossa experiência como monitores -educadores em museu, onde dividíamos espaço com profissionais de segurança. Notamos que tínhamos muitas semelhanças com eles: a negritude, os problemas com transporte público, as referências culturais... Mesmo trabalhando como educadores, nos vimos em posições de trabalhos racializados: pessoas negras, pobres, fazendo segurança do patrimônio dos outros... Então, esse cenário acabou nos inspirando", explica Jandir.

Com curadoria de Carolina Rodrigues, a exposição apresentará ao público um recorte dos oito anos de parceria da dupla, recebendo oito de suas performances, que acontecerão ao longo de dois meses de exposição com a presença dos artistas. A expografia divide-se em dois espaços. Num deles, há uma quebra da oposição entre público e privado em relação à presença desses profissionais na instituição, caracterizada pela montagem de uma sala de descanso, aos moldes das salinhas onde os seguranças tiram aquele cochilo entre uma ronda e outra. No outro, o espaço expositivo apresenta fotografias e croquis de suas performances em desenhos emoldurados, feitos pela própria dupla, acompanhados dos objetos que fazem parte das interações, como elementos performáticos.

A mostra possui o diferencial de tratar a performance como a principal linguagem artística, fazendo uma relação direta com o corpo do proletariado de base em performances com duração de uma jornada de trabalho real. Oito horas de trabalho. Oito horas de performance. Oito horas de prática. É pelo trabalho do corpo e pelo corpo no trabalho que a exposição toma forma e produz outros elementos, como os desenhos, as fotografias e a instalação e os objetos construídos e utilizados para o trabalho.

Por ter longa duração, o público poderá experienciar diversos momentos do trabalho sendo executado. A ação é, por vezes, simples: andar com chinelos, olhar através de um espelho convexo, usar dentes de ouro, trabalhar remotamente, segurar um sino de mesa, segurar uma cadeira, recepcionar as pessoas com bebidas e comidas em um isopor, ou deixar a sala de descanso aberta para visitação. Assim, as performances tentam evidenciar as relações de trabalho e as performatividades cotidianas realizadas por trabalhadoras e trabalhadores durante suas jornadas.

SERVIÇO

AMADOR E JR SEGURANÇA PATRIMONIAL LTDA, NEM PROFISSIONAL, NEM SÊNIOR

casa França-Brasil (Rua Visconde De Itaboraí, 78 - Centro)

Até 4/8, de terça a domingo (10h às 17h)

Entrada franca