Por: Ana Paula Marques

Mauro Cid deve confessar de forma parcial à Polícia Federal

Mauro Cid negocia confissão à PF e delação premiada | Foto: José Dias/PR

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, negocia confessar de forma parcial à Polícia Federal (PF) que apura o caso da venda ilegal de joias dadas como presentes à Presidência durante a gestão do ex-presidente. A expectativa é que Cid confesse na próxima sexta-feira (31) quando será ouvido simultaneamente com mais seis outros nomes investigados no caso das joias. Bolsonaro também irá depor ao mesmo tempo, mas ele falará sobre o caso do suposto uso do hacker Walter Delgatti Neto para tentar fraudar o sistema eletrônico de votação.

A sinalização para uma colaboração de Mauro Cid veio em seu depoimento à outra investigação da PF, justamente a que apura a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo hacker Walter Delgatti Neto, para a qual haverá agora o depoimento de Bolsonaro. O depoimento teve duração mais de dez horas, e surgiu a sinalização de que o ex-ajudante de ordens poderia colaborar para tentar beneficiar seu pai, o general Mauro César Lourena Cid, que também é acusado de participar do esquema de venda de joias.

Cid é investigado, no inquérito da invasão, a partir do depoimento que Delgatti deu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas. Nela, o hacker alegou que o tenente teria participado da reunião intermediada pela deputada Carla Zambelli (PL) com o ex-presidente Bolsonaro para descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro.

Delação

Apesar de já ter prestado depoimento à CPMI de oito de janeiro, Cid ainda é um alvo importante da comissão, que indica também vir a oferecer ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro um acordo de delação premiada. A comissão já tem o aval da Advocacia do Senado Federal para que venha a ser feito o acordo inédito. A delação poderia livrar Mauro Cid de algum indiciamento pela CPI. Porém, só será legítima com a participação do Ministério Público (MP) e a homologação de um juiz competente.

O último depoimento de Cid foi em julho, mas com os novos desdobramentos, a relatora da Comissão, senadora Eliziane Gama (PSD), sugeriu a reconvocação do militar no último dia 24, porém sem data marcada para acontecer.

Segundo o cientista político, Nauê Bernardo Azevedo, a possível confissão de Cid à PF não deve interferir nas investigações da comissão, já que existe a dependência de provas.

“A CPMI terá que avaliar o testemunho de Cid, já que ele pode continuar a não falar muitas coisas. Tudo depende das provas que ele irá apresentar, se apresentar, e como esse material poderá ser usado na comissão. Porém, na minha visão, não há expectativas de que seja um depoimento bombástico”, explica.

No caso de confissão, Cid assumiria a culpa, mas não iria envolver outros nomes. Já se ocorrer a delação premiada, o militar iria entregar nomes e isso pode ocorrer até de forma paralela, na PF ou na CPMI.

Silencio na CPMI

A CPMI tenta avançar, mas só obteve o silêncio do ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Fábio Augusto Vieira, na oitiva da terça-feira (29). Preso desde o dia o último dia 18 por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o ex-comandante usou do seu direito constitucional de permanecer calado quando questionado sobre sua omissão, no comando da polícia, quando invasores depredaram a sede dos três poderes, em Brasília.

Mas declarou, em sua fala inicial, ter ficado “consternado” com os ataques de 8 de janeiro e disse que “jamais” teria compactuado com os atos. Logo depois, passou a oitiva sem responder a nenhum questionamento feito pelo colegiado.

Eliziane Gama, ainda questionou o coronel sobre o compartilhamento de áudios golpistas em grupos oficiais antes dos ataques.

Investigação da PF

Na investigação dos casos, das joias, a Polícia Federal já tem acesso ao conteúdo do celular — apreendido no último dia 16 — do advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef. Apesar do acesso, a análise dos conteúdos pode demorar, já que as conversas com feitas entre Wassef e o ex-presidente eram feitas por chamadas de voz.

O advogado também não forneceu as senhas dos quatro aparelhos aos policiais, o que atrasa a análise dos materiais dos celulares. Existe a especulação de que o conteúdo poderia atrelar Bolsonaro diretamente ao caso das joias.

O doutor em ciência política, Leandro Gabiati, avalia que a PF vem chegando cada vez mais perto de Bolsonaro.

“Por ser uma figura próxima à família Bolsonaro, qualquer acontecimento com Wassef pode respingar no ex-presidente e, por existir muita materialidade na apuração das joias, a investigação pode prejudicar diretamente a figura do ex-presidente”, disse.

Na segunda-feira (28) o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse, em um vídeo publicado em suas redes sociais, que confia “100%” em Wassef. Alegou também que o pai, Bolsonaro, passa por uma perseguição sem precedentes.

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