Por: Ana Paula Marques

Após desencontros, Lula se reúne com Zelensky

Lula finalmente se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Após desentendimentos sobre Guerra na Ucrânia e desencontros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou com Volodymyr Zelensky, ontem (20) em Nova York, durante sua ida à Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), onde os dois presidentes discursaram. O encontro foi pedido pelo ucraniano e teve o objetivo de realinhar a relação dos dois governos, além de discutir o plano de paz de Zelensky.

Apesar de ser esperado, o assunto específico tratado na reunião não foi divulgado. Mas, logo após o encontro, que durou cerca de uma hora, o presidente Lula postou em suas redes sociais que a conversa foi “sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de mantermos sempre o diálogo aberto entre nossos países”. A reunião vem para costurar a relação dos dois países, que começou turbulenta, já que o governo brasileiro não tem acompanhado a visão da maioria dos países ocidentais no sentido que a Ucrânia é vítima e a Rússia a culpada pela invasão. Lula tem afirmado que os dois países têm responsabilidade, e que uma solução pela paz dependeria de boa vontade de ambos para ceder. A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura sete meses.

O encontro aconteceu no hotel onde Lula está hospedado. Após a reunião, o ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse a imprensa que a conversa foi “calorosa e honesta”.


Ruídos

O mal-estar diplomático começou no início do terceiro governo de Lula, em janeiro deste ano. Zelensky criticou a posição considerada suave do governo brasileiro com a invasão militar das tropas russas ao território ucraniano. Ainda em maio, durante a cúpula do G7, o ucraniano tentou se encontrar com Lula. Porém, o presidente alegou que houve atraso de Zelensky e a reunião não aconteceu. Outros encontros marcados também não aconteceram.

Lula defende a criação de um grupo de países neutros para negociar a paz. Lula também trocou farpas, e já afirmou que Zelensky também é responsável pela guerra porque "quando um não quer, dois não brigam". O ucraniano não gostou e rebateu que os pensamentos do petista não precisariam coincidir com os de Vladimir Putin, o presidente da Rússia.

Apesar de existir pressões do presidente ucraniano, é pouco provável que Lula condene abertamente a Rússia, já que o Brasil compartilha espaços importantes com Moscou em fóruns internacionais. Os dois países fazem parte do Brics, o grupo de países emergentes que tem como objetivo a cooperação econômica, formado por Brasil, Rússia, China e África do Sul.

O analista político da BMJ Consultores Associados, Nicholas Borges, explica que apesar de tentar proximidade, o presidente Lula não pretende mais ser protagonista de uma possível solução de paz para a guerra entre Rússia e Ucrânia. “As derrapadas de Lula e o posicionamento brasileiro reforçam que o Brasil não deve adotar uma posição relevante como moderador do conflito, o que demonstra o posicionamento neutro sobre a pauta”.

Encontro bilateral

Com agenda cheia, Lula se reuniu também com o presidente dos Estados, Joe Biden, em um encontro bilateral, onde lançaram um pacto em defesa de melhores condições de trabalho no mundo. Lula defendeu o fortalecimento dos sindicatos, e um 'novo marco' para relação entre capital e trabalho, principalmente os digitais. Ao discursar, o presidente do Brasil, disse que está discutindo com Biden políticas de trabalhos “decentes”.

Segundo o governo brasileiro, Brasil e Estados Unidos pretendem, juntos, incentivar a geração de empregos com cobertura de direitos trabalhistas.

"Instalamos uma mesa de negociação, governo e empresários. Essa mesa de negociação está para construir não apenas uma perspectiva de empregos decentes em função das plataformas que oferecem serviços precários. Mas também porque queremos criar, quem sabe, um novo marco de funcionamento na relação entre capital e trabalho. Uma relação do Século 21, civilizada", declarou Lula.

Segundo Nicholas Borges, o encontro com o presidente dos EUA, é importante para alinhar a relação “principalmente após os desencontros entre Lula e Biden sobre o conflito na Ucrânia”

O analista também explica que por enfrentar problemas comuns desde o início de seus respectivos mandatos, como os ataques ao Capitólio e à Praça dos Três Poderes, Brasil e Estados Unidos buscam dar respostas a outro problema comum: a pressão e desafios sobre a regulamentação de profissionais de plataformas multinacionais, promoção da proteção social e direitos básicos para os trabalhadores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.