Sai craque do vôlei. Entra deputado do Centrão

Lula prossegue feminicídio político com Ana Moser. Republicanos ganha Portos e Aeroportos

Por Rudolfo Lago

Padilha (centro) com os novos ministros Fufuca e Costa Filho

Uma nota divulgada no início da noite de quarta-feira (6) consumou o novo feminicídio político. A nota confirma que Ana Moser, mulher e ícone do esporte brasileiro, ex-capitã e medalha de bronze com a seleção brasileira de vôlei em 1996, deixará o Ministério do Esporte. Em seu lugar, assumirá o atual líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA). Médico de formação, não se sabe se o novo ministro pratica algum esporte.

A saída de Ana Moser cumpre uma decisão política. A jogadora tinha sido uma escolha pessoal de Lula, e vinha sendo vista como um grande acerto pelo meio esportivo, que reagiu fortemente à mudança. A craque do vôlei tinha sido a artífice, por exemplo, da candidatura brasileira para sediar a próxima Copa do Mundo de futebol feminino. Depois da deputada Daniela Carneiro (União-RJ), que deixou o Ministério do Turismo também num acerto político para a entrada de Celso Sabino, é mais uma mulher que Lula defenestra para abrigar os interesses do Centrão, grupo comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

De todas as mexidas que Lula fará para abrigar o Centrão, Ana Moser é a única que não deverá assumir nenhuma nova função no governo. O presidente conversou com a ministra na terça-feira (5), e na quarta-feira (6) voltou a se reunir com ela. A decisão oficial, no entanto, viajará com Lula para a Índia, onde ele participa da reunião do G-20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, que o Brasil presidirá agora. As mudanças só deverão ser oficializadas com a publicação no Diário Oficial na volta de Lula.

Era pouco

A decisão ocorre após uma longuíssima negociação que começou ainda no final do primeiro semestre. Lula aceitou a pressão do Centrão por novos cargos dentro dos acertos para aprovar na Câmara o arcabouço fiscal e a reforma tributária. A promessa foi feita. Os nomes escolhidos. Mas Lula adiou até agora o desfecho da novela.

Inicialmente, o PP cobiçou o Ministério da Saúde. Lula bateu o martelo que não mexeria na ministra Nísia Trindade. O partido de Arthur Lira partiu, então, para assediar o Ministério do Desenvolvimento Social. Lula quase cedeu a pasta, tirando dela o programa Bolsa-Família. Recuou diante do fato de que prestigiaria o atual ministro, Wellington Dias, senador do Piauí, estado que deu a Lula a maior votação proporcional nas eleições do ano passado, quase 80% dos votos. Sem o Desenvolvimento Social, ofereceu-se ao PP o Ministério dos Esportes.

André Fufuca até aceitou a pasta. Mas não seu comandante, Arthur Lira, que considerou o ministério pouco. O PP queria engordar a verba do ministério. E deverá conseguir, obtendo parte dos recursos oriundos das apostas esportivas do tipo Bet, que o governo regulamenta e cujos recursos o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pretendia para ele. O atual orçamento do Ministério dos Esportes é de R$ 900 milhões.

O PP ainda quer mais. O partido deverá ficar com a presidência da Caixa Econômica Federal. Mas quer a porteira fechada: as doze vice-presidências do banco que administra diversos programas sociais, inclusive o Minha Casa, Minha Vida. Ainda não se sabe se nesse ponto Lula irá ceder e entregar o banco por inteiro.

Republicanos

Enquanto Fufuca fica com Esportes, para o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) irá mesmo Portos e Aeroportos. Com relação a essa mudança, da parte do Republicanos, não havia já há algum tempo resistência. A resistência era do atual ocupante da pasta, Márcio França. Que, no final do dia, aceitou a solução encontrada.

Márcio França assumirá o novo Ministério do Empreendedorismo. Ou da Pequena e Média Empresa. No fundo, terá uma atuação próxima ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que é também ministro da Indústria e Comércio. França e Alckmin são muito próximos. França sucedeu Alckmin no governo de São Paulo. E é o grande responsável pela aproximação de Alckmin com Lula e com sua filiação ao PSB, depois de deixar o PSDB.

O Republicanos deverá receber também o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que está sendo recriada.