Cabo da PM afirma: manifestantes sabiam o que faziam

Ex-subsecretária de Inteligência do DF também deveria ter comparecido, mas recebeu um habeas corpus que a liberava de comparecer

Por Gabriela Gallo e Murilo Adjuto

Cabo Marcela disse que poucos policias estavam de plantão no dia dos ataques

Violência. Os vândalos que invadiram os três principais prédios da República brasileira no dia 8 de janeiro sabiam bem o que estavam fazendo. Estavam orientados e pareciam ter um plano definido. Essa foi a avaliação feita pela cabo da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Marcela da Silva Morais Pinno, em seu depoimento à CPMI dos Atos Golpistas nesta terça-feira (12). Em seu depoimento, ela enfatizou que os atos antidemocráticos foram marcados por violência entre os invasores, especialmente contra os agentes de segurança da linha de frente..

Marcela ficou conhecida por sua atuação na linha de frente no dia da invasão à sede dos Três Poderes, chegando a ser agredida com barras de ferro, arrastada pelo escudo e agredida com socos e chutes. No dia, ela foi reconhecida por ato de bravura e promovida de soldado para cabo.

Na parte inicial de seu depoimento a integrante da PMDF relatou que o seu grupamento, o pelotão de Patrulhamento Tático Móvel, chegou ao Ministério da Justiça no dia 8 de janeiro quando já havia manifestantes no local. A ação dos vândalos obrigou o reposicionamento para a cúpula do Congresso, onde, segundo ela, ocorreram os confrontos mais violentos.

“Tenho experiência em outras atuações de reintegração de posse, que costumam ser bem violentas, mas naquela proporção jamais [vi algo daquele estilo]. Eles [os manifestantes] se valeram de materiais que estavam à disposição. Usaram estacas das bandeiras, gradis de ferro, pedras, além dos coquetéis molotov”, declarou à Comissão.

Assim, Marcela rechaçou a possibilidade de que os atos pudessem ter acontecido espontaneamente: manifestantes que foram protestar e que, no calor do momento, acabaram invadindo os prédios. Para ela, tudo parecia previamente planejado.

Questionada por Eliziane Gama, a cabo da PM disse que, apesar de não poder afirmar que os manifestantes usavam de técnicas militares, “era perceptível que eles estavam organizados”. “Havia em torno de quatro ou cinco manifestantes que estavam à frente da manifestação. Eles possuíam luvas para ter acesso aos nossos materiais. Foram lançadas granadas a altas temperaturas que, se pegas por mão livre, provocariam queimaduras seríssimas. Estavam de máscaras, utilizavam de toalhas e lenços para cobrir o rosto”, ela detalhou.

Ela ainda pontou que se o efetivo do Batalhão de Choque, com cerca de 300 policiais e que estava de sobreaviso naquela data, tivesse se empenhado, o ataque teria sido evitado. Segundo ela, apenas 36 policiais, que estavam divididos entre dois batalhões, estavam de plantão no momento dos ataques.
A Comissão segue para seus depoimentos finais. Tanto o presidente, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), quanto a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmaram que pretendem entregar o relatório final até o dia 17 de outubro. Para Arthur Maia, ainda falta o depoimento de um membro da Força Nacional de Segurança.

Nunes Marques

Também estava previsto o depoimento da ex-subsecretária de Inteligência do DF, Marília Ferreira de Alencar, ex-braço direito do ex-secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. No entanto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques, concedeu a ela um habeas corpus na noite de segunda-feira (11) que a desobrigava de comparecer.
O presidente da Comissão, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), criticou a decisão do magistrado, classificando-a como “lamentável”, e disse que essa decisão evidencia um desequilíbrio entre os três poderes.

“Não há dúvida que uma decisão monocrática superando uma convocação desta comissão evidencia a falta de equilíbrio entre os poderes. Porque, logicamente, uma posição isolada de um único ministro se sobrepor a uma decisão conjunta, unânime, de uma comissão parlamentar de inquérito que tem , sim, poderes investigativos. [não parece possível]. Entretanto, cabe a nós cumprir esta decisão. Por outro lado, eu quero ressaltar mais uma coisa: o Supremo Tribunal Federal, em outras tantas vezes, foi arguido por depoentes que aqui vieram e também solicitaram a possibilidade de não comparecer nessa CPMI. E os outros ministros denegaram esse pedido. Agora, isso demonstra uma falta de isonomia de direitos praticada pelo STF. Ao meu ver, o Supremo deveria ter uma posição hegemônica para todos aqueles que solicitassem não comparecer à CPMI”, declarou Arthur Maia.