Frente parlamentar apoia cuidados paliativos

Ramo da medicina que trata de garantir uma morte digna ganha apoio na Câmara Legislativa

Por Ana Paula Marques

Equipe paliativa levou Paulo para show de cover do Pink Floyd

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o primeiro cuidado começa assim que se recebe o diagnóstico, ou deveria acontecer nesse momento. Por não ter muito destaque entre as medicinas, os Cuidados Paliativos são tratados como cuidados para a morte, quando deveriam se tratar de cuidados para melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida.

E vai além disso. É direcionada para dar àqueles que já não podem se recuperar a dignidade, autonomia e conforto diante do fim de sua vida. Mas acima de tudo, os cuidados paliativos são efetivamente para evitar a dor, física, emocional, e alguns arriscam que até a da alma.

Na falta de uma legislação específica que assegure o direito do paciente ao cuidado paliativo, esse atendimento vem por meio de algum servidor que tenha conhecimento na hora do diagnóstico, ou alguém que conhece alguém que trabalha com a assistência humanizada. Foi o caso de Paulo Augusto Del Castilo, que recebeu diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica em 2020. Nessa doença, as células nervosas se quebram e afetam o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva, acarretando paralisia motora irreversível, uma doença terminal.

Logo depois do diagnóstico, Paulo foi encaminhado para o Hospital de Apoio, referência no cuidado paliativo em Brasília. Lá, Paulo fazia acompanhamento com uma equipe de fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos. O que sua irmã Érica Lúcia Del Castilo, responsável pelos cuidados de Paulo, descreve como um trabalho humano e carinhoso.

“Foi um cuidado incrível, tanto para o Paulo, como para nos dá família. Sabíamos que chegaria a hora da despedida, mas estamos tendo todo o apoio da equipe. Quando chegamos ao hospital, meu irmão não sabia o que eram cuidados paliativos, muitas pessoas não sabem”.

Qualidade de vida

Para Érica, os cuidados paliativos não são para a morte, mas para a qualidade de vida do paciente, coisa que presenciou com seus olhos. “Meu irmão era muito fã da banda Pink Floyd. A equipe paliativa descobriu que teria o show de uma banda cover aqui em Brasília e conseguiram os ingressos. Paulo, como fã, conseguiu ir. Fomos de ambulância por ele estar acamado. Depois ele me disse que foi o show da vida dele”.

Paulo morreu em setembro deste ano, com 60 anos. Érica, como sua responsável, cuidou de sua dignidade, assim como a equipe que o acompanhava. “Ele decidiu que não queria que fossem tomadas medidas de sobrevida. Com o acompanhamento da equipe tanto de forma física quanto emocional, ele escreveu o termo e teve seu pedido atendido. Ele morreu com dignidade”.

Para a doutora em psicologia, Giselle de Fátima Silva, os cuidados paliativos são pouco conhecidos. “Hoje no DF, temos uma população que envelhece mais. As doenças que eram terminativas hoje são crônicas e temos doenças que de fato encurtam a vida. O foco paliativo é a prevenção e alívio de sofrimento de pacientes e familiares, por meio da avaliação correta, tratamento da dor, sejam elas físicas, psicossociais ou espirituais”, esclarece.

A doutora Giselle trabalha com cuidados paliativos desde 2003. Ela destaca o atendimento paliativo feito pelos Núcleos de Atenção Domiciliar (NRAD), onde equipes com múltiplos profissionais fazem atendimento de pacientes em casa, com conforto e humanidade. “É sempre bom lembrar que no cuidado paliativo visamos o protagonismo do paciente para além da doença. Paulo é um exemplo desse cuidado”.

Frente Parlamentar

A Câmara Legislativa do Distrito Federal cria nesta terça-feira (24) uma frente parlamentar justamente para discutir políticas que ajudem a propagar o ramo dos cuidados paliativos, e debater sobre a importância e urgência desses serviços públicos para a população.

O presidente da frente parlamentar, deputado distrital, Fábio Félix (Psol), disse ao Correio da Manhã que “visa um trabalho conjunto com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal para implementar as soluções necessárias e promover o atendimento a todos que precisam desses cuidados”.

“É dever do estado oferecer assistência humanizada e profissionalizada que proporcione uma vivência menos dolorosa aos que necessitam.”, declara.

O deputado esclarece que a iniciativa para a criação da frente parlamentar vem da demanda e dificuldade que pacientes paliativos encontram para serem atendidos pela rede pública de saúde aqui no Distrito Federal. A sessão desta terça é destinada para ouvir sociedade civil, familiares e pacientes paliativos e especialistas da área da saúde.