Por: Rudolfo Lago

Briga dos Gomes pode acabar em expulsão de Cid

Briga entre os irmãos Gomes atrapalha planos do PDT | Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

É uma situação inusitada. Oficialmente, o PDT faz parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O próprio ex-presidente do partido, Carlos Lupi, é o ministro da Previdência. O PDT ainda tem outro ministro, Valdez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional, embora ele seja indicação do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (AP). Mesmo assim, na pesada briga que envolve na legenda os irmãos Ferreira Gomes, deve prevalecer a visão mais oposicionista do ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes à visão mais governista do senador Cid Gomes (PDT-CE). Por mero cálculo eleitoral.

A briga tem relação com a postura adotada por Ciro Gomes nas últimas eleições presidenciais. Em 2018, Ciro considerava que teria mais chances de vencer Jair Bolsonaro no segundo turno do que Fernando Haddad, o candidato do PT. Buscou obter esse apoio. O PT preferiu manter Haddad. Magoado, Ciro viajou para Paris no segundo turno e não votou em nenhum dos candidatos. Em 2022, novamente candidato, Ciro aprofundou as críticas ao PT e a Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou eleito. Ciro segue defendendo um afastamento total do PDT do governo e dos petistas. Contrário a essa tese, Cid acabou se afastando do irmão.

Eleições

Até então, o PDT apoiava o então governador Camilo Santana no Ceará. Cid defendia, nas eleições para governador no ano passado, a manutenção da aliança, lançando Izolda Cela, do PDT, ex-secretária de Educação, como candidata. Contrário à aliança, Ciro defendeu o nome de Roberto Cláudio, que acabou sendo o candidato do partido. Camilo Santana lançou para o governo o petista Elmano de Freitas, que acabou eleito. Camilo tornou-se ministro da Educação, e Izolda sua secretária-executiva (outra pedetista no governo federal). Cid acabou abandonando Roberto Cláudio e dando apoio a Elmano de Freitas. Ciro, que tinha sido o terceiro colocado nas eleições de 2018, com a radicalização do seu discurso, perdeu terreno em 2022: ficou em quarto, atrás da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Ciro reagiu de pronto à decisão de Cid, dizendo que seu irmão o tinha “apunhalado nas costas”. A relação entre os dois ficou estremecida. Até explodir em reunião do partido no final do mês passado, quando os dois irmãos quase foram às vias de fato. Presidente do diretório estadual do PDT no Ceará, Cid deu cartas de anuência para desfiliação de diversos políticos do partido no estado, insatisfeitos com os rumos da sigla.

O presidente do PDT, deputado André Figueiredo (CE), resolveu, então, afastar Cid do comando do diretório. Na sexta-feira (10), porém, Cid conseguiu reaver o cargo na Justiça. Figueiredo, então, agora cogita iniciar um processo de expulsão de Cid Gomes do partido. Há informações de que Cid já negociaria sua ida para o PSB.

Ciro

Um parlamentar do PDT explica que a avaliação interna no partido é de que a briga entre os dois irmãos é um complicador difícil de ser resolvido de outra forma. Embora a maioria dos pedetistas considere ter sido errada a estratégia de Ciro Gomes na eleição presidencial do ano passado, pela postura muito agressiva com Lula, o partido considera que ele é um ativo eleitoral importante para a legenda.

Ciro não deverá mais ser candidato à Presidência pelo PDT nas próximas eleições. Mas o partido aposta na força do seu nome para puxar uma bancada forte de deputados federais. Ciro sairia candidato a deputado federal no Ceará. Como a eleição é proporcional, pode trazer consigo uma grande bancada. Mas, para que isso aconteça, não é conveniente que o PDT no Ceará fique dividido como se encontra. Além disso, já se calcula que a essa altura Cid Gomes já esteja mesmo de malas prontas.

Prefeitura

Outro ponto é a eleição municipal do ano que vem. O PDT avalia trabalhar a reeleição do atual prefeito de Fortaleza, José Sarto, que é do partido. Em princípio, porém, o PT não apoiaria o nome de Sarto. E novamente Cid Gomes tem se manifestado no sentido de manutenção da aliança entre os dois partidos que vem desde a eleição de Camilo Santana como governador.

No meio da confusão, o PT resolveu adiar para o ano que vem a definição de quem será seu candidato à prefeitura de Fortaleza. Três já estão no PT: a deputada federal Luiziane Lins, a deputada estadual Larissa Gaspar e o deputado estadual Guilherme Sampaio. O quarto nome é o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, que hoje é do PDT mas estaria saindo do partido.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.