Por: Ana Paula Marques

Visita de dama do tráfico à Justiça enrola Dino

Luciane aparece à esquerda, de blusa branca, ao lado de Elias Vaz | Foto: Redes sociais

Luciane Barbosa Farias, apelidada de dama do tráfico amazonense, participou de reuniões com secretários na sede do Ministério da Justiça em Brasília em duas ocasiões: em 19 de março e em 2 de maio deste ano. Ela é casada com um dos líderes da organização criminosa Comando Vermelho (CV) do Amazonas, Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas.

Ao participar de reuniões como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), como noticiou o jornal O Estado de S.Paulo, Luciene postou nas redes sociais fotos em que aparece ao lado de secretários do Ministério da Justiça. Em uma, está com o secretário de Assuntos Legislativos, Elias Vaz. Em outra, com o secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais da pasta da Justiça, Rafael Velasco Brandani. Na legenda das imagens, ela descreve que levou denúncias de revistas vexatórias no sistema prisional supostamente cometidas pelas empresas que atuam nas prisões do Amazonas.

Tanto Luciane quanto seu marido foram condenados em dezembro do ano passado por lavagem de dinheiro e associação com o tráfico por organização criminosa. Clemilson foi condenado a 31 anos e cumpre pena em regime fechado no presídio de Tefé (AM). Já a esposa recorre à condenação de 10 anos em liberdade.

Elias Vaz usou suas redes sociais para esclarecer que Luciene estava presente, em audiência, acompanhando a advogada Janira Rocha, ex-deputada estadual no Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia Criminal na seção do Rio de Janeiro (Anacrim-RJ).

O secretário lamentou o fato. “Se teve algum erro, esse erro foi da minha parte, de não ter feito uma verificação mais profunda das pessoas que vou receber”, disse.

Polêmica

O ministério da Justiça também confirmou a presença de Luciane na sede da pasta e disse ser impossível ter feito uma detecção prévia de Luciane, já que ela acompanhava uma comitiva de advogados. Em nota, o ministério descreve que a responsabilidade é exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.

Parlamentares usaram a confirmação para emplacar nova polêmica contra o ministro da justiça, tentando associá-lo à organização criminosa. Associação semelhante tinha sido feita quando, em março, Flávio Dino fez uma visita ao Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o ministro esteve no Complexo da Maré a convite da ONG Redes da Maré, para participar do lançamento da 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré. Na ocasião, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou o vídeo da visita para associar Dino ao Comando Vermelho. Dino respondeu que iria processar o deputado por racismo, ao relacionar a favela a organização criminosa.

Impeachment

Dessa vez, porém, deputados querem explicação de Flávio Dino por meio de notícia-crime à Procuradoria-Geral da República (PGR), além também de um pedido de impeachment do ministro. Ao Correio da Manhã, o deputado Kim Kataguiri (União-SP) disse que a visita de Luciene ao ministério é razão para que Flávio Dino renuncie.

O deputado disse que já ingressou com a convocação de Dino e também do ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, já que Luciene também esteve na sede da outra pasta. Kataguiri pede o comparecimento dos ministros para darem explicações à Câmara. “Também entrei com pedido de impeachment do ministro Flávio Dino, porque a desculpa que ele deu de que o ministério não tem como saber todas as reuniões que os seus secretários têm, é simplesmente uma admissão de culpa, de negligência”, declarou.

O ministro Flávio Dino, por meio das suas redes sociais, disse que nunca recebeu líder de facção “Nunca recebi líder ou esposa, ou parente, ou vizinho. Simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete”.

O deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) que acionou a PGR, disse ser incoerente uma pessoa, peça principal nas investigações do tráfico de drogas no Amazonas, ter livre acesso ao alto escalão do governo.

“O assunto pode até ter sido uma falha na inteligência de credenciamento do ministério ou excesso de confiança a deputados influentes. Então que os órgãos responsáveis por investigar os três poderes apurem o episódio e nos digam onde está a falha. Precisamos esclarecer essa situação com a PGR coordenando”, disse à reportagem.

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