Por: Ana Paula Marques

Brasil mediará reunião de chanceleres da Guiana e Venezuela

Brasil poderá dar recado a Maduro sobre conflito | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nesta quinta-feira (25), os chanceleres da Guiana, Hugh Todd, e da Venezuela, Yván Gil Pinto, se reunirão em Brasília para discutir a disputa territorial por Essequibo, na Guiana. O encontro será intermediado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e é a chance brasileira de demonstrar sua influência política na América Latina.

Após as gafes das políticas externas nas investidas para chegar a um acordo nos conflitos recentes como o da Ucrânia e Rússia e entre Israel e o Hamas, o governo brasileiro agora tem a possibilidade de garantir sucesso na intermediação, para evitar que aconteça um conflito armado na Guiana, que faz fronteira com o Brasil. A discussão durante a reunião com os países, deve ir na linha de uma cooperação mais ampla e um canal mais aberto de comunicação entre Venezuela e Guiana.

O conflito entre os países se intensificou após o governo venezuelano afirmar ter o direito pela região de Essequibo. O território está atualmente localizado na região guianense, em um trecho de 160 quilômetros quadrados que corresponde a cerca de 70% de toda a Guiana e atravessa seis dos dez estados do país. A área é rica em petróleo e em outros recursos naturais.

Líder Brasil

“O Brasil é reconhecido por adotar em sua diplomacia o diálogo como ferramenta de política externa. E uma guerra não costuma fazer parte do repertório da atuação brasileira no plano internacional”, avalia a advogada especialista em Direito Internacional e internacionalista Hannah Gomes.

“O Brasil sempre pontuou e se orgulha, como um protagonista do continente, que a América Latina é um território de paz e cooperação. Então, o governo irá buscar uma solução pacífica do conflito em torno da região da Guiana”, explica.

O ministro das Relações Exteriores, já declarou que o presidente não apoiará nenhuma investida armada por parte da Venezuela na Guiana. “O presidente está tranquilo. Disse que o Brasil não apoia nem apoiará nenhum ato de arbitrariedade e que a coisa precisa ser resolvida no campo diplomático”, disse.

Recado dado

O recado de que a Venezuela não terá apoio brasileiro também veio através de um convite, aceito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para participar da cúpula da comunidade dos Estados do Caribe (Caricom), que neste ano acontece justamente na Guiana. O Brasil não faz parte do bloco e usará o convite para reforçar as relações com países caribenhos.

A oportunidade de ir à Caricom, segundo a internacionalista, também deverá ser usada para o Brasil demonstrar coerência na política externa e reforçar sua liderança no continente, demonstrando para a comunidade internacional que ainda tem força e reconhecimento como liderança, mesmo após as “derrotas” nas últimas interferências em conflitos.

“Também será uma demonstração a Nicolás Maduro, — presidente da Venezuela — de que o Brasil pode até mesmo romper relações com o amigo venezuelano, preservando, assim, relações com outros países que também já apresentaram oposição a esse conflito”, explicou

Se acontecer, a guinada brasileira pode levar Maduro a um cenário político ainda mais isolado. Sem o apoio do Brasil, potências estrangeiras da Europa e até mesmo os Estados Unidos podem tomar frente nessas tratativas. “Com esse cenário, o suporte irá para a Guiana e acabará em interferência externa na política latino-americana, o que não é o desejo de nenhum dos três países envolvidos, — Brasil, Venezuela e Guiana — muito menos da comunidade caribenha”, prevê a especialista.

Logo após participar do encontro da Caricom, Lula deve emendar a viagem com a cúpula de outro grupo, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que acontecerá no dia 1o de março, em São Vicente e Granadinas, no Caribe.

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