Seguem os desdobramentos da operação da Polícia Federal (PF) que investiga o esquema de espionagem ilegal praticado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridades. Nesta terça-feira (30), o número dois da pasta, Alessandro Moretti, foi exonerado do cargo. Quem entra no lugar dele é Marco Aurélio Cepik. O atual chefe da Abin, delegado Luiz Fernando Corrêa, continua no cargo, mas está sob pressão interna e também pode acabar exonerado. Além disso, devido à crise, serão realizadas mudanças em sete departamentos da Abin.
Moretti é acusado de ser cúmplice no esquema de espionagem e manter relações com o ex-diretor-geral da Abin, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Ele foi o braço direito do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres. Horas antes da decisão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou em uma entrevista à CBN Recife que, se fosse comprovado o envolvimento do número dois da Abin, não haveria “clima” para ele continuar no cargo.
Depoimento
A polícia intimou o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), general Augusto Heleno, a depor na PF sobre seu suposto envolvimento na “Abin paralela”. O depoimento está marcado para a próxima terça-feira (06/02). Na época, a Abin era subordinada ao GSI.
Também na manhã desta terça-feira, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), prestou depoimento na sede da Polícia Federal do Rio de Janeiro, na Zona Portuária da cidade. Ele conversou menos de uma hora com os agentes e saiu sem falar com a imprensa. Porém, por meio das redes sociais, ele afirmou que não falou sobre a operação da Abin e sim sobre um inquérito referente a uma postagem dele nas redes sociais em 27 de agosto de 2023.
Na época, ele repostou uma publicação que criticava as autoridades de segurança pública de descaso com a segurança de Jair Bolsonaro. A postagem mostrava imagens com alusão ao ex-presidente morto com as frases:“Zero busca e apreensão, zero inquérito, zero perfis bloqueados, zero reportagem em repúdio, pessoas presas: zero”.
O vereador compartilhou a imagem e escreveu: “O seu guarda diretor aqui enxerga com outros olhos”. A PF considerou a postagem ofensiva ao diretor-geral da corporação, delegado Andrei Rodrigues, e o caso chegou a dar origem a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Em seu depoimento, o vereador afirmou que a postagem era uma “forma de indignação generalizada” e que ele não tinha a intenção de ofender a honra ou a dignidade de Andrei Rodrigues.
Guerra política
Os alvos recentes das operações da PF foram criticados pela oposição, que critica a operação de perseguição política. Em entrevista à Globonews, o ministro da Justiça e Segurança Pública e futuro ministro da Suprema Corte, Flávio Dino, negou que as investigações sobre a Abin paralela sejam uma “guerra de bastidores ou guerra com temas políticos”.
“Até porque essa denúncia de uso ilegal da Abin antecede o atual governo, ela é uma denúnica de três anos atrás, de 2021”, completou Dino. Ele enfatizou que a corporação está apenas realizando seu trabalho e afirmou que “há provas inequívocas de que houve a utilização de uma ferramenta sem autorização judicial”.