Política industrial vira novo rolo para o governo

Mercado reagiu mal e até mesmo o próprio Lula criticou a proposta, gerando atrito com Alckmin

Por Gabriela Gallo

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A nova política industrial, intitulada Nova Indústria Brasil (NIB), mal foi lançada e já é alvo de polêmica. As mudanças foram anunciadas pelo governo federal no início desta semana para impulsionar o setor industrial nacional até 2033 e reverter a chamada “desindustrialização precoce do país”. Para alcançar este objetivo, serão disponibilizados R$ 300 bilhões para financiamentos de 2024 a 2026, que serão repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A notícia não foi bem recebida pelo mercado financeiro, por considerar que a proposta provocará impacto fiscal e repetirá erros econômicos do passado. Nesta segunda-feira (22), mesmo dia em que o projeto foi anunciado, o dólar comercial chegou a ser vendido a R$ 4,988, a maior cotação do ano com uma alta de R$ 0,061 (+1,24%). Além disso, a Bolsa de Valores caiu quase 1% e atingiu o menor nível em 40 dias.

Em conversa com a reportagem, o doutor em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Roberto Luis Troster concorda que a nova política industrial demonstra ser “mais do mesmo”, critica que, por incrível que pareça, acabou sendo feita pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A nova política industrial, pelo que foi anunciado, é meritória, já que quer mais industrialização, avanços tecnológicos e modernização. Todavia, é mais do mesmo. É mais do que foi feito no passado e não deu certo, insiste mais no mesmo: crédito subsidiado”, disse ao Correio da Manhã.

“Por que só a indústria tem crédito subsidiado e não as microempresas e toda a cadeia produtiva? O que adianta alguns industriais terem mais dinheiro, mas seus fornecedores não terem? É uma política que fazia sentido nos anos 1950 e 1960, mas hoje em dia não faz mais sentido. Fora o custo fiscal: se o banco empresta abaixo da taxa de mercado, alguém tem que pagar essa diferença”, completou o economista.

Política

A repercussão negativa também resultou em ruídos internos no governo federal. Informações nos bastidores apontam que o presidente Lula se irritou com a forma como o projeto foi divulgado, já que ele só teve acesso às informações do documento horas antes do lançamento do programa. O presidente fez críticas ao projeto afirmando que a proposta não tem metas concretas, o que abre brechas para críticas de que a nova política se trata de uma reedição de medidas antigas, como considerou o economista Troster. Além disso, Lula também apontou falhas no documento, como problemas nos prazos para cumprimento das metas estabelecidas.

A proposta foi desenvolvida ao longo de seis meses por membros do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial cujo líder é o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). Com a repercussão negativa, o vice-presidente defendeu que os R$ 300 bilhões da nova política industrial não têm um impacto fiscal.

Em uma entrevista concedida ao portal UOL na quarta-feira (24), ele reforçou que “o governo não vai fazer nenhum aporte de dinheiro para o BNDES, não vai colocar recursos a mais”.

“É natural que toda grande entrega traga também interpretações equivocadas, por isso é bom enfatizar. O plano lançado que lança as bases para a retomada da indústria brasileira é engenhoso, inovador e sustentável, inclusive do ponto de vista fiscal. Não há ameaça ao equilíbrio orçamentário”, escreveu Alckmin por meio de suas redes sociais.

No entanto, esse ruído interno não deve gerar um embate maior entre Lula e Alckmin, segundo o analista político Leandro Gabiati. “O Alckmin é um político muito hábil que geralmente evita confrontos. Ele fez isso muito com o Haddad nesse primeiro ano de governo, ele evita entrar em disputa, evita esse desgaste e com o Lula deve ser a mesma situação. Se houver críticas do Lula à política, provavelmente o Alckmin não entrará em qualquer embate, muito menos com o presidente da República”, afirmou Gabiati ao Correio da Manhã.