Por: Ana Paula Marques

Advogado: Bolsonaro só soube da minuta do golpe depois do governo

Segundo advogado, Bolsonaro só soube da minuta já fora do governo | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro deu na terça-feira (27) novo depoimento à Polícia Federal (PF). Embora não fosse o tema do depoimento, o advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, acabou aproveitando a oportunidade para estabelecer o argumento do ex-presidente quanto ao seu conhecimento da chamada “minuta do golpe”. Segundo Paulo Bueno, Bolsonaro só teria tido contato com a tal minuta quando já estava fora do governo. Bolsonaro mencionou a minuta no ato da Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25), e isso gerou especulações de que a polícia poderia usar tal declaração como comprovação de que ele tinha conhecimento do documento.

“A minuta da qual o presidente se referiu, que foi encontrada na sala do PL, foi a minuta que eu, enquanto advogado, só encaminhei para ele em outubro de 2023. Não reforça em nada a investigação, porque foi a primeira minuta que ele viu. Portando, ele comentava — na manifestação — sobre algo que ele só teve conhecimento muito tempo após sair
da Presidência da República”, disse o advogado ao sair da sede da PF em São Paulo.

O advogado fazia a defesa de Bolsonaro durante seu depoimento a PF nesta terça, no inquérito que investiga se o ex-presidente incomodou uma baleia jubarte durante um passeio de moto aquática em São Sebastião (SP), em junho de 2023. O ex-presidente também é alvo da investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado.

Manifestação

Em discurso no domingo, Bolsonaro se defendeu das acusações sobre tentativa de golpe. “Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de Estado de Defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Deixo claro que Estado de Sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não”, disse ao público durante a manifestação de domingo.

Na verdade, há dois documentos encontrados em momentos e locais distintos. Uma primeira minuta de decreto menciona decretação de Estado de Defesa para uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após essa intervenção, seria criada uma comissão para organizar uma nova eleição para presidente. Essa primeira minuta foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres. Depois, a PF encontrou nova minuta do que seria um esboço de discurso mencionando Estado de Sítio. A fala de Bolsonaro no domingo misturou os dois documentos.

Bolsonaro convocou seus apoiadores no desenrolar das investigações da qual ele é alvo. Especialistas avaliam que o movimento é uma demostração de força política. Bolsonaro, então, se coloca como um cabo eleitoral para as eleições municipais que acontecem neste ano, já que está inelegível até 2023.

Depoimento

No depoimento que prestou hoje sobre o caso da baleia, a defesa do ex-presidente declara que Bolsonaro teria tomado todas as precauções a partir do momento em que avistou o animal. “Você não consegue controlar um animal daquele tamanho que surge e emerge da água”. O advogado também afirmou que Bolsonaro “nem sabia que tinha essa proibição”, disse.

A investigação apura os possíveis crimes ambientais previstos em lei, sobre “molestamento intencional” de baleias e outros animais. A ação foi aberta após circularem nas redes vídeos da moto aquática com motor ligado se aproximando da jubarte. Bolsonaro, prestou depoimento à polícia por cerca de duas horas.

Na PF

O ex-presidente tem frequentado as sedes da Polícia Federal desde que deixou a Presidência da República. Na semana passada, por exemplo, ele e outras 22 pessoas prestaram depoimento sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro ficou em silêncio, motivado pelo fato de a defesa não ter tido acesso a todos os elementos da investigação, como a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente.

Bolsonaro já soma sete depoimentos à PF, dois sobre o caso das joias sauditas, um sobre os empresários suspeitos de apoiar um golpe de Estado, um sobre o 8 de janeiro, outro sobre adulteração do cartão de vacina, além das duas mais recentes.

A análise que se faz sobre as investigações é de que elas poderiam desgastar a imagem do ex-presidente. Porém, para o advogado e analista politico Melillo Dinis, os inquéritos que decaem sobre Bolsonaro não são novidade. “Historicamente a maioria dos presidentes do Brasil sofreram investigações depois que saíram do poder. Apesar disso, neste momento de polarização, essas ações judiciais só colocam mais tempero na reputação do ex-presidente. Quem o defende diz que é perseguição e quem não gosta dele comemora”, explicou.

Segundo o analista, as investigações abrem espaço para que Bolsonaro se comporte como vítima e assim, aumentar o seu potencial político, já que “o eleitor acaba por valorizar esse comportamento”, continua.

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