O ex-comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes prestou depoimento por mais de sete horas à Polícia Federal na última sexta-feira (1). Ele foi ouvido na condição de testemunha nas investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado que teria sido planejado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) e seus aliados. E, segundo informações, ele teria confirmado que, de fato, aconteceu reunião no Palácio do Planalto na qual foi discutida a chamada “minuta do golpe”.
O depoimento do general começou por volta das 15 horas na sede da PF em Brasília e terminou ainda na sexta, por volta das 22 horas. A oitiva faz parte da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF em 8 de fevereiro.
A mesma operação ouviu, na semana passada, os depoimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro, do ex-ministro e candidato a vice-presidente em 2022 Walter Souza Braga Netto; do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, e do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
Somente Valdemar Costa Neto e Anderson Torres responderam a algumas perguntas da PF na oitiva. O restante preferiu exercer o direito de ficar calado.
Investigação
Apesar de não estar na condição de depoente, o general Freire Gomes foi chamado para esclarecer pontos como sua participação na reunião realizada no palácio da Alvorada sobre a minuta golpista. Segundo as informações da delação do ex-ajudante de Ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, nessa reunião Bolsonaro consultou os comandantes militares sobre a minuta. E somente Almir Garnier teria declarado que aderiria ao golpe. Segundo Cid, Freire Gomes, mais contundente, teria chegado a dizer que, caso aquilo avançasse, seria obrigado a prender Bolsonaro.
A investigação, assim, apura o papel de Freire Gomes. Se ele sabia e nada fez, poderá vir a ser acusado de omissão. A amigos, porém, Freire Gomes tem dito que sua atuação precisava ser nos bastidores. Do contrário, acabaria destituído e a ação prosseguiria.
A polícia queria saber, principalmente, por que o ex-comandante não denunciou o que estava sendo tramado dentro do governo. Segundo as informações, Freire Gomes confirmou ter havido a reunião no Planalto. Mas detalhes do que disse e de qual teria sido sua atuação desde então, ficaram sob sigilo.
A recusa de Freire Gomes em aderir ao golpe teria irritado militares aliados do ex-presidente, como o general Braga Netto, que chegou a chamar Freire Gomes de “cagão” em mensagens extraídas pela PF nas investigações.
Acampamentos
Se teve ou não papel importante para evitar o uso das tropas do Exército em atos golpistas, Freire Gomes, entretanto, foi quem deu a ordem para que o acampamento, em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, não fosse desmobilizado na noite do 8 de janeiro.
As investigações procuram saber se a ordem partiu do general ou se ele recebeu uma ordem superior para interromper o trabalho da PF e da Polícia Militar do DF, que estava, no final de 2022, tentando desmontar o acampamento.
Outro questionamento da PF era sobre o papel do general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante das Forças Terrestres, na reunião em que se discutiu a possibilidade de golpe em dezembro de 2022. Segundo as investigações, o general Gaspar de Oliveira teria comparecido à reunião a pedido — ou ordem — de Freire Gomes. E teria dito que aceitaria a decretação do Estado de Defesa, previsto na minuta, caso Bolsonaro o assinasse. O depoimento de Freire Gomes causa temor no Exército de que outros militares da ativa sejam implicados no crime de golpe de Estado.