Governo recua e decide manter Perse

Como na reoneração, mudanças no programa para setor de eventos serão feitas por projeto

Por Ana Paula Marques

Após encontro com Lira, Haddad aceita negociar Perse

Em vez de manter a Medida Provisória (MP) que dava fim ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que irá enviar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei (PL) propondo um novo modelo para o programa. O acordou foi costurado com os próprios parlamentares e anunciado após reunião de Haddad com líderes e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na terça-feira (5).

Com a MP, a pasta da Fazenda havia proposto a retomada da cobrança de impostos para as empresas do setor a partir de abril. O texto gerou protestos de parlamentares, e isso levou a uma tensão entre governo e Congresso. Além disso, o trecho que dava fim ao Perse estava na mesma medida provisória que previa a reoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia, outro ponto de tensão entre os poderes.

O governo retrocedeu com a reoneração, na última semana, mas manteve o fim do Perse no texto. Agora, segundo o autor do programa, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), o Perse será redesenhado e o Ministério da Fazenda fará um estudo para identificar os setores que ainda não se recuperaram da pandemia de covid-19, para propor um texto mais “enxuto”, como declarou Haddad.

Segundo Haddad, o projeto também deverá abordar outro ponto que era extinto na MP: a ampliação da desoneração da folha previdenciária e municípios.

“Nós vamos encaminhar um projeto em relação a municípios e ao Perse com a discussão que foi feita junto aos líderes, que fizeram várias sugestões para enxugar aquilo que eles próprios reconheceram como um completo descontrole do programa”, disse o ministro da Fazenda.

De acordo com Haddad, 11 mil empresas de eventos são beneficiadas com o Perse em todo o Brasil. O governo estima que abriu mão de receber R$ 10 bilhões com a renúncia fiscal do Perse apenas em 2022. O montante chegou a R$ 13 bilhões no ano passado. Ou seja, quase R$ 25 bilhões em seus dois anos de existência.

O ministro também já havia afirmado que, do jeito que foi aprovado, o Perse abriu margem para lavagem de dinheiro, superfaturamento e atividades ilícitas. Por isso, o governo teria proposto o fim do programa. Mas a principal razão é para tentar cumprir a promessa de deficit fiscal zero para este ano.

Setor

o deputado Carreras, que é ligado ao setor de eventos, afirmou que os líderes irão colaborar com o ministério para a elaboração do PL.

“A partir do momento que o PL for enviado, a ideia é que ele tramite até o fim de março. Vamos discutir quais filtros e travas para tornar o Perse dentro da natureza do que foi proposto pelos parlamentares, para quem essencialmente tem direito. Os líderes, juntamente com a pasta da Fazenda, terão de elaborar um novo programa”, disse.

O deputado também chegou a declarar que Haddad está comprometido com o novo programa. “Ele deu os números, se colocou à disposição, tanto ele quanto sua equipe, para fazermos confronto dos números, dos dados que foram apresentados pelo setor, para chegar a um entendimento”, afirmou Carreras.

Perse

O Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, o Perse, foi criado em 2021 para compensar o impacto negativo das medidas restritivas — como o lockdown — durante a pandemia da covid-19, além de uma forma de compensar perdas financeiras das companhias.

A vigência prevista do Perse era de cinco anos, de 2021 a 2026. No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou a MP acabando com a isenção fiscal para o setor, que voltaria a pagar impostos gradualmente.