No sábado (6), enquanto ainda permanecia quente a crise na Petrobras em torno da permanência ou não de seu presidente, Jean Paul Prates, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na Granja do Torto representantes dos petroleiros. A presença ali não teve o propósito de discutir especificamente a crise na Petrobras, mas a crise mais ampla: a de popularidade do governo. Além dos petroleiros, estiveram na Granja do Torto representantes de outros setores da sociedade civil, como integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), líderes religiosos evangélicos e católicos e representantes do agronegócio. Lula buscou a sociedade civil para que ajudasse a responder à pergunta: onde está errando?
A crise na Petrobras é parte da avaliação sobre essas respostas. Reúne intenso fogo amigo entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e certa falta de estratégia no jogo combinado internamente. O cerne da crise foi a discussão sobre a distribuição dos bilionários dividendos da empresa entre os acionistas. Inicialmente, Lula não queria distribuir esses dividendos, e guardá-lo em um fundo de investimentos. A discussão foi levada ao Conselho de Administração da empresa, que aprovou ação nessa direção. Na reunião, Prates absteve-se, irritando Lula e gerando a crise. O problema é que pode ter sido muito barulho por nada. Agora, o governo cogita fazer a distribuição, porque é o maior acionista da Petrobras e, com os recursos, poderia cobrir o rombo de R$ 10 bilhões que ficou com a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) de manter a desoneração da folha previdenciária dos municípios. Os dividendos da Petrobras giram em torno de R$ 43 bilhões.
Prates, assim, por enquanto permanece no cargo. Mas as informações é de que está muito insatisfeito com a rota de colisão entre ele e Silveira. Tenta-se contornar a questão. No final da semana, havia especulações tanto quanto a saída quanto para a permanência de Prates, com uma mudança no Conselho. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econõmico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, poderia vir a assumir uma cadeira no colegiado, tornando-se o presidente do Conselho de Administração da empresa. O posto hoje é de Pietro Mendes.
Com esse arranjo, Mercadante também poderia se manter no comando do BNDES. anco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com a mudança, Pietro Mendes, que é aliado de Alexandre Silveira, sairia, promovendo novo equilíbrio de forças.
Dividendos
A Crise teve início na discussão sobre os dividendos da companhia. O Conselho de Administração da empresa resolveu reter os R$ 43 bilhões de lucros, colocados em uma reserva, em vez de pagar dividendos, o que foi interpretado pelo mercado como uma intervenção do governo na empresa, produzindo desvalorização nos preços das ações da estatal. Na época, Silveira propôs reter 100% dos ganhos extras, Prates tentou uma solução que agradasse ao mercado e à União, retendo apenas metade dos proventos para reserva e distribuindo a outra metade. Voto vencido, absteve-se.
Agora o governo parece ter mudado de ideia, depois que perdeu R$ 10 bilhões na última terça-feira (2) quando o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) prorrogou a Medida Provisória de reoneração do governo, mas excluiu do texto a folha de pagamento dos municípios brasileiros com até 156 mil habitantes, o que vai gerar a perda dos R$ 10 bilhões. Entretanto, como o governo é o maior acionista da Petrobras, fazer a distribuição dos dividendos pode cobrir esse rombo. Os dividendos são uma parcela do lucro da empresa que é repartida entre os acionistas.
Ausência
Na última sexta-feira (5) Prates faltou às reuniões da diretoria executiva e do Conselho de Administração da companhia.
Por outro lado, as especulações são de que o chefe do Executivo também não está feliz com o comando de Prates, a avaliação é de que houve uma “sequência de erros” nas últimas semanas, o que acabou intensificando o debate pela substituição no comando da Petrobras.
Ironia
No final da semana passada, Prates ironizou as especulações sobre sua substituição. Dando a entender que seguirá no cargo, ele publicou no "X", antigo twitter, uma imagem em que um interlocutor pergunta se ele vai sair da estatal. A resposta de sua assessoria foi a seguinte: “Acho que após às 20h20. Vai para casa jantar...E sexta-feira às 7h09 ele estará de volta na empresa, pois sempre tem a agenda cheia”.
Prates tem sofrido críticas pesadas de Silveira, que chegou a declarar que é possível agradar ao mercado e governo com “humildade, discrição e competência”. Perguntado se estava chamando Prates de incompetente, o ministro respondeu: “Deixo essa avaliação para o presidente Lula”.