Petrobras pode mudar comando

Em escalada da crise, presidente da estatal pede reunião "definitiva" com Lula

Por Ana Paula Marques

Prates vem se desentendendo com ministro

Após uma sequência de desentendimentos com o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, pediu uma reunião “definitiva” com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para discutir sua situação no cargo.

Apesar de não ter uma data específica para o encontro, o rumor de que o comando da maior estatal do Brasil será trocado vem crescendo, o nome que ganha força para ocupar o lugar de Prates é o de Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Prates estaria insatisfeito com a falta de apoio de Lula aos ataques que tem recebido de integrantes do governo, especialmente Alexandre Silveira, e caso não tenha um respaldo maior do Executivo, a possibilidade é de que ocorra um pedido de demissão.

Por isso, um dos principais pontos que Prates pretende levar a Lula seria a suposta interferência de Silveira sobre o conselho da companhia.

O presidente da estatal ironizou os rumores de sua saída da empresa em uma postagem na rede social X (antigo Twitter). Na imagem postada, um interlocutor pergunta se ele vai sair da estatal. A resposta de sua assessoria foi a seguinte: “Acho que após às 20h20. Vai para casa jantar...E amanhã às 7h09 ele estará de volta na empresa, pois sempre tem a agenda cheia”.

Escalada da Crise

Desde o início do terceiro mandato de Lula, o relacionamento entre Prates e Silveira é marcado por embates. Os temas que rondam essa crise entre os dois são relacionadas com as pauta do governo, como preços dos combustíveis, distribuição de dividendos e retomada de investimentos da companhia.

As disputas entre os dois se concentravam inicialmente em aspectos técnicos, como a reinjeção de gás natural em poços de petróleo. As desavenças a partir daí só foram aumentando.

A saída de Prates passou a ser ventilada publicamente após a crise ocorrida na discussão sobre a distribuição dos dividendos da Petrobras. O Conselho de Administração da empresa resolveu reter os R$ 43 bilhões de lucros, colocados em uma reserva, em vez de pagar dividendos, o que foi interpretado pelo mercado como uma intervenção do governo na empresa, produzindo desvalorização nos preços das ações da estatal. Na época, Silveira propôs reter 100% dos ganhos extras, Prates tentou uma solução que agradasse ao mercado e à União, retendo apenas metade dos proventos para reserva e distribuindo a outra metade. Derrotado na discussão, Prates se absteve na reunião do conselho, o que à época gerou a irritação de Lula.

Na linha dessa recente crise, em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o ministro Silveira reconheceu o conflito entre os dois.

“Sempre tive debates acalorados, verdadeiros. Mas debates transparentes sobre o que eu, como governo, defendo na Petrobras; e o presidente da Petrobras, naturalmente, defende como presidente de uma empresa. Os papéis são diferentes. Por isso há um conflito”, afirmou.

Na ocasião, ele criticou a postura de Prates em relação ao pagamento de dividendos extraordinários da Petrobras, ele também afirmou que se Prates tivesse seguido a orientação do governo, “não teria tido tanto barulho”. Além disso, o ministro da pasta de Energia também chegou a declarar que é possível agradar ao mercado e governo com “humildade, discrição e competência”. Perguntado se estava chamando Prates de incompetente, o ministro respondeu: “Deixo essa avaliação para o presidente Lula”.

Outro nomes

Além de Mercadante, outros nomes já vinham circulando no mercado como possíveis sucessores do executivo, como o da ex-diretora-geral da Petrobras, Magda Chambriard. Além dela, circularam os nomes de Miriam Belchior, ex-ministra-chefe da Casa Civil; Bruno Moretti, atual conselheiro da Petrobras, e Rodrigo Dubeux, secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda e candidato ao conselho de administração da companhia.