Por: Ana Paula Marques

Lula adia viagem ao Chile para se concentrar no Sul

Lula voltará ao Rio Grande do Sul na quarta-feira (15) | Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR

Por Ana Paula Marques

Prestes a viajar ao Chile, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adiar a viagem para acompanhar o agravamento da situação de calamidade pública enfrentada pelo Rio Grande do Sul. O estado enfrenta a maior tragédia climática de sua história, após ser atingido por chuvas e enchentes desde o fim do mês de abril.

A Defesa Civil do estado emitiu novos alerta de inundações nesta segunda-feira (13). Isso porque, conforme os cálculos do órgão, o rio Guaíba—que banha, além da capital, cidades como Eldorado do Sul, Guaíba, Barra do Ribeiro e Viamão—deve subir e bater recorde com 5,5 metros. Ele está acima da cota de inundação, e nos últimos dias está sendo afetado por um repique, quando o nível que havia baixado volta a subir.

A visita à capital chilena, Santiago, estava prevista para os dias 17 e 18 de maio, e as novas datas ainda não foram confirmadas. Por lá, o presidente tinha agendado um encontro bilateral com o presidente do Chile, Gabriel Boric. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Mauro Vieira, os chilenos foram informados sobre a situação no sul do país e entenderam a necessidade de o presidente continuar no Brasil.

Dívida

No domingo (12), o estado gaúcho voltou a ser atingido por fortes chuvas. O Centro Nacional de Monitoramento de Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um alerta para alto risco de deslizamento e novos alagamentos em algumas regiões gaúchas durante a semana. Há também o risco de quedas de barreira.

Por esse motivo, ainda na segunda, em reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o presidente afirmou que deve voltar ao estado ainda na quarta-feira (15) para acompanhar de perto a situação da população. O presidente já esteve no estado duas vezes desde o início da crise. Ainda na reunião, realizada por videoconferência, Lula confirmou a suspensão, por três anos, do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União.

Entretanto, a suspensão da dívida ainda precisa passar pela análise do Congresso Nacional, como um projeto de lei complementar, que ainda terá de ser aprovado e sancionado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou que as medidas do governo podem liberar R$ 23 bilhões para o caixa do Estado no período de três anos.

"Além da suspensão do pagamento da dívida, também serão zerados os juros sobre o estoque, todo o estoque da dívida, pelo mesmo prazo. O que significa dizer que poderemos contar com R$ 11 bilhões, que seriam destinados ao pagamento da dívida para um fundo contábil que deverá ser investido na recuperação do estado segundo um plano de trabalho que o senhor vai elaborar", declarou Haddad ao governador gaúcho.

Segundo o ministro, R$ 12 bilhões seriam correspondentes aos juros da dívida nesse período, que não será cobrada. Totalizando os R$ 23 bilhões.

Conselhão

Ainda na quinta-feira (16) o presidente convocou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), conhecido como Conselhão, para tratar com os empresários e demais integrantes do grupo a situação do Rio Grande do Sul. O objetivo é unir esforços e ampliar o apoio ao estado.

Até o momento, segundo o último boletim, o número de desalojados pelas enchentes estava em 538.743. O número de mortos é de 143, enquanto 125 pessoas estão desaparecidas. Há outras 806 feridas. A enchente afetou mais de 2 milhões de pessoas e 447 municípios gaúchos, somente 50 cidades do estado não foram afetadas, já que são ao todo 497 municípios no Rio Grande do Sul.

Viagens

Apesar das viagens internacionais do presidente serem usadas pela oposição ao governo para tentar diminuir a popularidade de Lula, o advogado eleitoralista e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) Guilherme Gonçalves defende que as idas ao outros países são necessariamente institucionais e buscam uma agenda estratégica de retirar o Brasil de uma espécie de afastamento mundial deixado de herança pelo governo anterior.

"Lula consegue abrir e acaba por fomentar uma série de relações, sobretudo na área comercial com outros países. Entretanto, por conta desse aspecto institucional, me parece que o presidente Lula acerta quando, diante da magnitude da tragédia no Sul, modifica uma agenda de uma viagem, para que ele esteja presente de modo a dar eficiência a uma série de decisões fundamentais", explica.

Para o especialista, apesar das diversas críticas, o presidente não tomou a decisão "pensando se o Congresso e se a base gosta ou não gosta que ele viaje para o exterior".

"A questão pode não ser eleitoral, mas, sim, uma prioridade institucional da agenda. O presidente Lula já foi outras vezes ao estado e está em contato permanente com o governador, que é de outro partido", explica.