Por: Ana Paula Marques

‘Troca-troca’ pode colocar governo em nova crise

Saída de Prates gerou queda nas ações da Petrobras | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

De uma vez só, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o comando de dois importantes pilares de seu governo. Da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta foi anunciado como ministro extraordinário da reconstrução do Rio Grande do Sul. Da Petrobras, o presidente decidiu demitir Jean Paul Prates e comunicou que Magda Chambriard assumirá a chefia da estatal.

A repercussão não foi positiva. No caso de Prates, o mercado reagiu e a Petrobras já perdeu R$ 33 bilhões em valor de mercado em menos de 24 horas da demissão, já cogitada desde o segundo ano do governo Lula, quando houve uma discussão sobre a distribuição dos dividendos extraordinários em março. Na ocasião, Lula defendia reter a distribuição, e Prates absteve-se na reunião do conselho da estatal, o que irritou Lula. Desde então, o ex-senador pelo Rio Grande do Norte vinha sofrendo processo de “fritura”, a partir de desavenças com os ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Alexandre Silveira, de Minas e Energia.

As ações ordinárias da Petrobras—as que dão direito a voto nas decisões da companhia—chegaram a despencar 6,73%.

Apesar de a estatal ter informado em nota que recebeu, na noite desta terça-feira (14), uma solicitação de desligamento que partiu de Prates e que foi aceita pelo Conselho de Administração da Companhia, o próprio ex-presidente da empresa confirmou que foi demitido por Lula. Prates é ex-senador do PT pelo Rio Grande do Norte e assumiu a direção da Petrobras no início do terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023.

Sem ‘time’

Para o analista político André Cesar, o presidente escolheu a hora errada para decidir demitir Prates. “Uma escolha feita em um momento em que todas as atenções estão voltadas para o Rio Grande do Sul, parece uma tentativa de abafar o impacto que uma demissão desse nível causa, pode parecer oportunismo”, explica.

“E a mudança dos nomes da presidência da estatal3 não irá resolver o problema. A Magda Chambriand tem o perfil ainda mais técnico do que o de Prates, ou seja, as interferências politicas feitas na Petrobras irão continuar”, disse.

As brigas entre Prates e ministros do governo, principalmente, Silveira, começaram logo no início da gestão por vagas no Conselho de Administração da companhia. Silveira chegou a pedir a intervenção do presidente Lula para conseguir emplacar nomes da sua confiança, com a oposição de Prates, e acabou saindo vitorioso, elegendo aliados que haviam sido rejeitados pelo Comitê de Pessoas da estatal.

Pimenta no RS

Já as críticas na escolha de Paulo Pimenta como ministro extraordinário da reconstrução, estão na interpretação de que o governo politizou a tragédia que acomete o Sul. Isso porque o petista Paulo Pimenta é um nome forte, ainda não declarado, ao governo gaúcho em 2026.

O presidente confirmou Pimenta no novo cargo durante a visita, nesta quarta-feira (15), ao Rio Grande do Sul. É a terceira ida do presidente ao estado em duas semanas, desde o início das enchentes que já deixaram 149 mortos e 112 desaparecidos, de acordo com o último balanço divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul.

O cargo extraordinário deverá durar de quatro a seis meses. Entretanto, a escolha de Pimenta é criticada por ele não ter saber técnico da função que irá assumir. Além de colocar em prova uma relação que, até o momento, está boa, mas que vem de um antagonismo histórico. O PT de Lula, e de seu ministro, com o PSDB do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

“É uma excrescência Lula querer politizar a tragédia no estado”, avaliou o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), uma das principais lideranças tucanas no Congresso Nacional. Segundo Aécio, o presidente deveria ter consultado o próprio Leite antes de escolher Pimenta para o cargo. “Foi um desrespeito ao governador”, disse, Aécio.

Leite

Para André Cesar, Lula se colocou em uma posição ruim, já que não se sabe se Pimenta e Leite terão uma boa interlocução. “O correto seria o presidente montar um comitê tripartite, com um representante federal, um estadual e um para representar os prefeitos dos municípios, até porque três cabeças pensam melhor que uma”, disse.

Para o especialista, a escolha de Lula aconteceu cedo e deve mudar, já que a previsão do clima na região não é boa. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a tendência é de queda nos próximos dias, mas o Rio Guaíba — que banha, além da capital, cidades como Eldorado do Sul, Guaíba, Barra do Ribeiro e Viamão — só deve chegar aos 4 metros entre os dias 19 e 21 de maio. A cota de inundação é de 3 metros.

O Rio Grande do Sul teve nesta quarta-feira (15) mais um dia sem chuva e com baixas temperaturas, com risco de geada no sul do estado. Mas a previsão é de que chuvas fortes podem retornar e atingir desde Porto Alegre até a Serra Gaúcha.