Por: Ana Paula Marques

4 em cada 10 deputados avaliam negativamente o governo

Eleição de Lira tornou relação com governo mais difícil | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (22) revelou que a percepção dos deputados federais sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) piorou em vários aspectos. O recorte feito entre os parlamentares da Câmara dos Deputas demonstra que a avaliação negativa do Executivo subiu nove pontos, indo de 33% para 42% entre agosto de 2023 e maio de 2024.

A pequisa apontou que 42% dos deputados avaliam negativamente o Planalto. No mesmo sentido, o índice dos parlamentares que achavam a administração positiva caiu de 35% para 32%. Os que acham regular foram de 30% para 26%. O levantamento ouviu 183 deputados federais—35% do número total, 513—entre os dias 29 de abril e 20 de maio sendo encomendada pela Genial Investimento, A margem de erro estimada é de 4,8 pontos percentuais para mais ou para menos.

Menos atenção

Para 64% dos entrevistados, o governo dá menos atenção do que deveria aos parlamentares, ante 27% que consideram que dá a devida atenção. Nas últimas eleições, os brasileiros elegeram deputados federais e senadores expressivamente conservadores. Ante aos governos anteriores do presidente Lula, o Congresso Nacional tem maior número de opositores a suas pautas que parlamentares da base governista.

Para a cientista politica e especialista em Poder Legislativo Gabriela Santana, a mudança do Congresso pode ser um dos fatores para a queda de popularidade do presidente. “Nos mandatos anteriores, Lula tinha nas mãos outra situação política no Brasil. Hoje vemos um parlamento muito mais forte, até mesmo a forma como a mídia trata os presidentes das Casas—Senado Federal e Câmara—é diferente. Nos primeiros mandatos de Lula quase ninguém sabia quem eram os chefes do Congresso. Isso mostra que aumentou o poder dos presidentes das Casas e isso se reflete, por meio da mídia, na população”, explica.

Para a especialista, é preciso, da parte do governo, uma articulação mais desenvolvida. “Neste momento o governo não tem a habilidade necessária na articulação e tem aprovado, mas com muita dificuldade, as suas pautas. É preciso um ator politico forte a frente da relação”.

Articuladores

Desde o início do governo três de Lula, os principais responsáveis pela articulação política com o Congresso são o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. A escolha dos nomes para compor a equipe de articulação do governo pode ter sido equivocada, já que eles nunca tiveram uma relação boa com os parlamentares.

É o que explica o analista político Érico Oyama. “É visível um mal-estar, tanto que as maiores vitórias do governo, sobretudo na pauta econômica, tiveram como articulador principal o ministro da Fazenda, Fernando Haddad”.

O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a chamar o ministro Padilha de “incompetente” e de desafeto. Lira tem dado “trabalho” para o Executivo, isso porque desde o início de 2024 tem dado declarações manifestando sua indignação com a forma como o governo trata seus acordos. Na abertura do Legislativo em fevereiro, por exemplo, Lira alfinetou o governo sinalizando dificuldades nas articulações.

“É por nos mantermos fiéis à boa política e ao cumprimento de todos os ajustes que firmamos, que exigimos, como natural contrapartida, o respeito às decisões e o fiel cumprimento aos acordos firmados com o Parlamento. Para esses, que não acompanharam nosso ritmo de entregas e realizações, deixo, humildemente, um importante recado: não subestimem esta Mesa Diretora! Não subestimem os membros desta Legislatura”, disse Lira.

Érico Oyama chama a atenção para o recorte das pautas econômicas. “Existe um consenso entre o governo e a maioria do Congresso nos temas de natureza econômica. Nesse ponto, o governo deve continuar com vitórias, especialmente na reforma tributária, que é de interesse também de Lira. É bom lembrarmos que o Lira também está no seu último ano enquanto presidente da câmara, a partir de fevereiro do ano que vem a dinâmica vai ser outra e o governo precisa se atentar muito nas negociações quanto ao próximo presidente, porque esse poder de pauta vai influenciar muito nos êxitos que o executivo nos próximos dois anos de Executivo”, explica.

Sem confiança

A pesquisa demonstra também que o parlamento não tem confiança na promessa do governo de manter o deficit das contas publicas de 2024 zerado. Para 80% dos entrevistados, não será possível cumprir a meta, enquanto somente 16% acreditam na proposta apresentada pela equipe econômica.

Para cumprir a meta, o governo tem procurado pautar o Congresso com projetos para arrecadar mais impostos, temas esses que sofrem críticas dos parlamentares, principalmente de oposição, o que aumenta a percepção negativa na relação dos dois poderes.